CADA UM NA SUA PRAIA por Chico Anísio
Li um artigo interessante e muito adequado para boa parte dos jogadores brasileiros de boliche, novatos, veteranos e jurássicos …
Do blog do Chico Anísio, escrito em 26/8/2007
“CADA UM NA SUA PRAIA
Um dia um dos meus cavalos correu um páreo de 1.000 metros na grama, dentro da sua turma. Chamava-se Esterior, assim com S, mesmo. Ele venceu no tempo de 55”3/5 – tempo de Grande Prêmio. Daí a 40 dias seria corrido o Grande Prêmio Imprensa, igualmente na grama e igualmente em 1.000 metros. Eu conversei com o meu treinador e perguntei se não seria uma boa inscrever o Esterior no G.P. Imprensa, pois o tempo em que ele correra os 1.000 no sábado anterior o qualificava para correr o Grande Prêmio.
O Roberto Morgado, meu treinador, não pensou para me responder:
– Não dá para ele, Chico.
Eu, é claro, estranhei, pois sabia que dificilmente o G.P Imprensa seria ganho em tempo muito abaixo daqueles 55”3/5.
Bolas. Por que o Esterior não teria chances, então, no G.P. Imprensa ? O Roberto Morgado me deu então uma explicação que foi uma aula de vida:
– Ele ganhou neste tempo correndo na turma dele. Quando ele encarar os craques que vão correr o Grande Prêmio Imprensa, ele vai enfrentar cavalos de galão maior, cavalos grandes, mais fortes, mais bonitos, tudo diferente do que ele está habituado na turma dele e isto fará com que ele se apequene .
Eu, louco para ver o meu cavalo disputando um Grande Prêmio (e, na minha opinião, cheio de chance de vencer), insisti muito e ele concordou e inscreveu o Esterior, sabedor do cavalo não ter menor chance; apenas para me “obedecer”.
O páreo foi corrido num domingo azul, de temperatura amena. O vencedor marcou o tempo de 56”4/5 (ou seja: um segundo e um quinto a mais que o Esterior, na sua vitória) e o meu cavalo chegou em décimo-quarto.
Ali eu aprendi mais esta.
É por este motivo que o jogador que sai dos juniores para jogar com os profissionais, precisa de tempo para se acostumar a tudo aquilo que agora tem para enfrentar, pois ali as coisas são diferentes, do físico até o fungado do atleta que ele vai encarar. Ele agora não disputa mais a bola com jogadores da sua estatura e do seu corpo, mas com gente madura, que já tem truques e um poder de força, no próprio chute, muito maior.
O mesmo se aplica na televisão. Quando se coloca dois atores que vieram do “Malhação” e lá brilhavam, contracenando com Lima Duarte, Eva Wilma e Fernanda Montenegro, eles desaparecem.
Por este motivo, a renovação tem que ser feita aos poucos, em etapas. 3, 4 de cada vez (nas novelas) 1, 2 de cada vez (no futebol), para que gente com um belo potencial não se perca, por uma atemorização desnecessária.
Quando eu comecei, na Mayrink Veiga, éramos apenas dois jovens no meio de 18 cobrões: o Antônio Carlos e eu. Sendo 2 apenas, deu para nós colocarmos a cabeça fora d’água.
Acho que é por causa dessas experiências que eu gosto muito de uma frase criada pela juventude de hoje e que define bem esta situação:
– Essa não é a minha praia.
Se não for, não mergulhe. Procure a sua.”
Beleza.
Bela lição!
abraços
O Chico está cheio de razão. Ele mesmo é uma vítima da falta de espaço para ‘cobras’ de que padece a TV brasileira tão afeita agora a drogas com o BBB e outras pendengas. O Brasil não aprende mesmo: enquanto na Europa e EUA os ‘feras’ são idolatrados, aqui eles são colocados ‘para escanteio’ ou … para morrerem na praia!!!!!
Valeu, Chico!