BOLICHE É UMA PAUSA NO AFEGANISTÃO EM GUERRA

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CABUL, Afeganistão (AP) – Na capital afegã marcada por anos de guerra, uma jovem afegã apostou US$ 1 milhão que seus compatriotas poderiam ter um pouco de diversão.

Localizado na mesma rua do novo e luxuoso Shopping de Cabul, o Strikers é o primeiro centro de boliche no país, de propriedade de uma jovem mulher Meena Rahmani, 26 anos, inaugurado em 15 de setembro deste ano, após 8 meses de construção.

Ela aposta no empreendimento como sendo mais do que um lugar para diversão em família em uma cidade em grande porte, porém desprovida de opções de lazer. O centro com 12 pistas de Boliche é um reflexo da esperança do país para o futuro, além de ser um desafio gigantesco em garantir um oásis de paz mesmo durante os combates da OTAN contra os talibãs, que já estão no 11.º ano de lutas.

“Não há como comparar um centro de Boliche no Afeganistão e outros no Ocidente, mas esse país precisava de um lugar como este.”, declarou Meena.

Além da importância cultural desse centro em um país carente de opções de entretenimento, a própria construção foi uma empreitada de grande risco e logística complicada. Todos os equipamentos foram importados, os engenheiros vieram da China e o centro é alimentado por vários geradores de porte industrial. A entrada para o Boliche fica atrás de portas de aço resistentes à explosão e é guardada por homens musculosos carregando fuzis de assalto AK-47.

“Realmente foi um mega projeto”, disse Meena, “mas nós estávamos comprometidos com essa missão.”

Ela apostou US$ 1 milhão do seu próprio bolso – originado da venda de terras da família – que o centro não só irá ajudar os afegãos a passar algumas horas de lazer e diversão, mas também um lugar onde homens, mulheres e famílias podem se reunir e relaxar, sem as restrições sociais, religiosas e culturais que regem a dura vida cotidiana no país empobrecido. Dentro, várias dezenas de frequentadores afegãos, a maioria ainda aprendendo a jogar boliche, parecem concordar. Desde que abriu, o Strikers logo se tornou uma grande atração.

“Aqui, em nossos dias de folga, simplesmente caminhamos a esmo pelas ruas”, disse Navid Sediqi, um empresário de 29 anos de idade. Disse ainda que usava o Facebook para bater papo com os amigos no fim de semana. Após as orações da sexta, eles iam para áreas de piquenique ou parques, sentavam e conversavam. “Mas isso aqui é muito melhor. Finalmente, um pouco de emoção em nossos dias de folga”, declarou. Navid estava vestido com um”shalwar kameez”, uma espécie de camisolão que pode ser colorido ou branco, mais tradicional.

Para a maioria dos 5 milhões de habitantes de Cabul, durante anos, houve poucas opções para passar o tempo.

Há lutas kite, piqueniques ou passeios de barco em um lago nos arredores de Cabul, bem como jogos de futebol em campos de terra, próximos de áreas bombardeadas. Alguns parques de diversões enferrujados foram reativados para crianças, um  deles no mesmo terreno de um cemitério.

Como tudo o mais no Afeganistão, as luxuosas instalações do boliche fazem parte dos contrastes e desafios do país em guerra por décadas, ainda mais quando é um negócio de iniciativa de uma jovem mulher numa região onde elas tradicionalmente são relegadas ao segundo plano, quando não plano algum.

Meena deixou o Afeganistão em 1992 e passou 15 anos no Paquistão, antes de se mudar com seus pais para o Canadá para estudar pós-graduação, disse que a idéia surgiu quando ela visitou seu país de origem há vários anos e descobriu que não havia nada para os afegãos a fazer além de, ocasionalmente, sair para comer, caminhar ou visitar a família. O Boliche parecia-lhe um bom antídoto para o tédio.

Porém a realidade perturbada do cotidiano dos afegãos está claramente à mostra quando se sai pela porta do boliche. Nesse país os restaurantes são freqüentados por afegãos ricos e ocidentais, porém eles são exigidos a deixarem suas armas na porta, os jogadores de boliche são revistados pela segurança antes de entrar pistas. Todo esse cuidado se justifica, afinal um shopping center nas proximidades foi atingido duas vezes por ataques de insurgentes desde que foi inaugurado em 2005. Acima das portas de aço é muito comum no Afeganistão ter uma placa com os dizeres: “Nenhuma arma.”

O Strikers é dividido em duas partes, numa tem um restaurante e noutra as 12 pistas totalmente automatizadas, com a pontuação registrada por computadores.

“Este lugar é feito para a nossa própria nação”, declarou Meena, ressaltando que a política não tem nenhum papel no esforço para se divertir. “Aqui é apenas um lugar de esporte e lazer.”

Uma hora neste boliche afegão custa US$ 35, que podem ser divididos entre até seis jogadores por pista. Uma xícara de café custa US$ 5, mais do que o salário médio diário local.

Ela admite que o seu centro ainda é inacessível para a maioria no país, mas diz que as despesas e os custos iniciais foram muito altos, então não teve outra escolha senão a cobrar esses valores. Com o aumento da frequencia, os preços poderão cair rapidamente.

(original da Associated Press por Ariano Massieh)

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