(por Décio
Abreu)
O BOLICHE NO BRASIL TEM FUTURO?
Já faz um bom tempo que escrevo
sobre esse tema: o futuro do boliche no Brasil, sempre propondo
alternativas para o crescimento e desenvolvimento do nosso querido esporte.
Sabe-se das intenções da CBBOL sobre o Pan 2007, o boliche como esporte olímpico, alto rendimento, verbas do governo, etc. Porém, a meu ver,
conforme escrito em várias outras ocasiões, estamos
diante de uma inversão de valores. A CBBOL espera que o boliche
cresça se for olímpico, se obtiver verbas, apoio do governo, etc,
concentrando todos os esforços nessa direção.
Para mim e muitos outros, no entanto, é justamente o
contrário.
Se o esporte crescer e conseguir um número maior de atletas
(de uma maior quantidade sai melhor seleção), ganhar mais espaço na
mídia, obtiver mais patrocinadores privados, atrair mais investidores
que montem mais centros de boliche, crescer tecnicamente, melhorar o
ambiente e se tornar mais atrativo, é conseqüência natural ter
maiores chances de se firmar junto ao COB e obter apoio do governo.
Claro que tudo que pudermos obter será bem vindo, mas devemos mudar a
postura. Lembro da velha máxima que sucesso só vem antes do trabalho
no dicionário.
O que podemos fazer para crescer? Estabelecer Metas e Prioridades!
Meta: aumentar o número de praticantes.
Estratégia: Fortalecer e
dar condições de crescimento às federações e clubes.
Meios:
- Divulgar através de
seminários, impressos, palestras da diretoria técnica e convidados
como organizar torneios regionais;
- Ampliar o uso do handicap;
- Fazer intercâmbio de experiências bem sucedidas entre as
federações;
- As federações devem orientar juridicamente a formação de clubes, com
acompanhamento constante das atividades desses clubes;
- Importar material esportivo
com isenção de impostos e revender a preço de custo acrescido de 15% (dentro do
que a lei permitir);
- Buscar patrocínios junto as empresas para diminuir ao máximo
as taxas, anuidades, semestralidades e
custo de torneios nacionais;
Meta: aumentar o número de
centros de boliche.
Estratégia: Tornar atrativo
investimento no setor
Meios:
- Manter um relacionamento de
parceria com os boliches, repassar esta visão à comunidade,
interromper a "guerra de classes" (federados
x dirigentes x
proprietários).
- Procurar patrocínios e divulgação para
remunerar melhor os centros esportivos;
- Não repassar aos centros de
boliche os custos das inscrições nos eventos.
Exemplo: certa vez o presidente da Federação Mineira
procurou o Boliche Del Rey para negociar uma Taça BH, propondo a
redução dos custos das pistas. Na contra-proposta foi solicitada uma oportunidade de negociar patrocínios. Resultado:
o Boliche Del Rey recebeu o valor justo pelas pistas, o evento ficou mais
em conta para
os atletas e a FMB teve lucro, ao contrário de outras Taças que fecharam
com prejuízo. Da mesma forma foi feito com o Campeonato Sul-Americano de Clubes e
agradou à todos os envolvidos.
É importante lembrar que o setor empresarial mais interessado em investir para que o esporte cresça é o de
proprietários de boliche. O Boliche Del Rey, por exemplo, já
conseguiu inúmeros patrocínios e montou parcerias interessantes com a
Coca Cola, Heineken, Visa,
Credicard, Banco Real, Santa Amália, entre outras, para custear total ou parcialmente
eventos regionais, nacionais e até internacionais. Este é um grande
filão ainda pouco (ou mal) explorado.
- Dividir com os atletas os
patrocínios obtidos.
Quando o Boliche Del Rey conseguiu os Campeonatos
Brasileiros Individuais custeados
100% pela Heineken, a CBBOL cobrou inscrição normal, não repassando
nenhum benefício aos atletas. A meu ver, essa foi uma atitude equivocada.
Aqui em Minas Gerais, todos os
patrocínios que o Boliche Del Rey conseguiu para a FMB, independentemente do
Presidente, pedimos, e sempre foi acatado, que pelo menos 50% da verba
obtida fosse rateada, beneficiando todos os atletas e não
somente a seleção.
- Importar material esportivo
(pinos, house-balls, etc) com isenção de impostos;
- Pagar eventos com
material esportivo a preço intermediário entre o custo da CBBOL e de
importação para as casas, tornando os eventos mais baratos para a CBBOL
e atletas, sendo bom para os centros também, que passariam a ter interesse
em receber eventos, fazendo o possível para torná-los
melhores, providenciando ar condicionado, equipe de manutenção eficiente, melhoria
no cardápio e preços mais acessíveis.
Meta: melhorar o nível técnico
e os resultados internacionais
Estratégia: Incentivar e
propiciar boas condições de jogo para que os melhores jogadores tenham
destaque.
Vejam que, até 1987, quando o
Morumbi (único boliche oficial do Brasil de 1982 até 1987) resolveu
condicionar melhor suas pistas e apareceram o BH Boliche e o Bowlerama,
assistimos a um show de seleções nacionais com bolas convencionais que
fracassaram seguidamente. Nosso grande destaque do Sul Americano de 86 em
São Paulo foi Luiz Souza, carioca que jogava com uma bola Black Beauty convencional.
Éramos motivo de riso e chacota (com algumas exceções de alguns que
insistiam em girar bola) até de peruanos!!!
Mas, com a mudança radical que
aconteceu no condicionamento de pistas em 87, em poucos anos o Brasil saiu
da última página da listagem para o topo no masculino e passou a ser
respeitado no feminino. Quem hoje acredita em um campeão brasileiro com
bola convencional? A diferença? Pistas que possibilitaram a aplicação
de novas teorias e uso de equipamento moderno que fizeram
valer a pena o desenvolvimento técnico.
Claro que pistas bloqueadas e
escores irreais não são solução. Confio que o Diretor Técnico da
CBBOL, Juliano Oliveira, tenha capacidade para discernir alguns tipos de condicionamento que propiciem bons
resultados (os melhores na frente e não 230 a granel). Porém, testes com
um dia de antecedência não são seguros, nem confiáveis.
Meios:
- Testar no local o
condicionamento planejado, pelo menos três dias antes do evento;
- Providenciar uma limpeza de approach com máquina do tipo Vaporetto;
- Negociar antecipadamente com as casas de
forma que o ar condicionado funcione adequadamente;
- Premiar os melhores
jogadores com os melhores horários;
- Fazer respeitar regulamentos
internacionais, principalmente no item que trata de lixar as bolas durante o jogo. O pó
das bolas recém-lixadas arruínam a região de jogo;
- Ajudar e orientar as
federações sobre o condicionamento padrão nas Taças.
- Manter o mesmo condicionamento das pistas do início até o
final do torneio, agradando ou não aos participantes.
- Melhorar o condicionamento do approach a cada dia do evento.
- Providenciar duas máquinas,
uma para limpeza e outra para passar óleo. Isso, além de diminuir os
custos, proporciona condições mais parecidas em todos os dias e em todas as
pistas.
- Transparência total e coerência de critérios nas convocações.
À primeira vista pode parecer um plano de
poucos resultados e difícil de realizar. A nossa realidade, creio,
mostrará os resultados positivos a médio e longo prazo e, até, que não
é tão difícil quanto parece.
A grande diferença é uma
mudança de postura. E de objetivos.
Décio Abreu
Atleta mineiro e proprietário
do Boliche Del Rey