DIVAGAÇÕES
SOBRE O BOLICHE
Dizem os
historiadores do Boliche que até os anos 40 a pista (de madeira) não
recebia maior cuidado. Quando muito, era varrida e levava uma aplicação
de cera. Para maior longevidade da pista, começaram a passar verniz
(shelac) chamado por aqui de "asa de barata".
As bolas, no início do século vinte, de madeira, evoluíram para
borracha dura (hard rubber) e, em seguida, plástico. No Brasil tivemos
dois fabricantes de bolas - Orion e Marfinite.
O sucesso era repartido entre os que usavam semi-rollers e os full-rollers.
Nos anos 60, surgiram outros vernizes, logo destacando-se o poliuretano.
Isto provocou duas mudanças no cenário: os full-rollers sumiram do Tour
da PBA e os donos de boliche perceberam que o esquema de aplicação do óleo
influenciava grandemente os resultados.
O ABC lutou muito tempo contra as pistas "bloqueadas" mas
finalmente, lá por 1990, com o aparecimento das bolas reativas, liberou
os esquemas de aplicação do óleo. A conseqüência foi um grande número
de partidas de 300 e médias inflacionadas, que perdura no momento.
Parte dos jogadores luta contra isto e obteve do ABC a categoria Sport
Bowling, onde não pode haver pistas com variação de óleo superior a 1
para 3.
Essa falta de uniformidade das condições da pista é um dos argumentos
contra a inclusão do boliche (ten pin bowling) nas provas olímpicas. Estão
sendo testadas algumas medidas para modificar a situação. Todas
relativas as pistas ou as bolas.
Sugiro um outro caminho, que muda totalmente o enfoque do boliche tornando
irrelevante o total de pinos, a semelhança do futebol onde se equivalem
uma vitória por 1 x 0 e outra por 9 x 0. Como conseqüência, não mais
haveria Ranking mas sim Rating a exemplo do sistema Elo utilizado pela
FIDE (xadrez).
ABRIL/2002
[TOPO] |
O
PERÍODO JURÁSSICO NO RIO
Como diz o Fernandão (Cals), somos do Período
Jurássico do boliche
carioca... Comecei por volta de 1965.
"Meu coração tem catedrais imensas, templos de
priscas e longínquas datas onde um nume de amor em serenatas canta a aleluia virginal das
crenças" (Augusto dos Anjos)...
Na Casa da Suíça, as duas primeiras pistas do Rio. O Canecão já foi boliche. Scala e
Gatopardo também... Bolas brasileiras - Orion e Marfinite - testemunhavam a pujança
desse esporte.Acredita que já houve Liga Feminina à tarde, organizada por americanas?
As pistas eram difíceis, secas.
221 deu-me medalha de maior partida um ano na Rio Bowling League.
Americanos, jogando hook, queixavam-se que nos USA suas médias eram 25 a 35 pinos
maiores.Brasileiros jogando hook só dois: Juarez e eu. Os cobras arremessavam bolas
retas.
Carcará, Flintstones, Contra Pinos, Luluzinhas, Brasas... Artistas como Nair Belo,
MPB4... Os Bergallo, os Cals, os Almeida, os Leal, os Peixoto de Castro... Dos muitos
craques de então, sobressai o consistente Hugo del Vechio... Alex, precursor ou
introdutor do helicóptero? Matos, primeiro 300, em treino, pino com cordinha e mão no
bolso... O garoto Walter aparecendo...
O italiano Bertelli gerenciando no Pax e outros... No Gávea, a simpatia de Ziza e
Guilherme; e então lá pegou fogo... Começou aí a decadência do boliche carioca,
interrompida (momentaneamente?)`com a vinda da Brunswick para o Brasil.
Assim foi o boliche no Rio, feliz enquanto durou.
"Como os velhos templários medievais penetrei um
dia nessas catedrais, nesses templos claros e risonhos. Erguendo os gládios
e brandindo as
hastas no desespero dos iconoclastas Quebrei a imagem de meus próprios sonhos"
Augusto dos Anjos
setembro/99
[TOPO] |
PAN-AMERICANO
- UM DIAGNÓSTICO CONFIRMADO
Estão totalmente ultrapassados os dias em
que Walter Costa ou Fernando Rezende, venciam torneios internacionais do gabarito do
Pan-Americano unicamente com talento.
O recente Pan-Americano '99 confirmou que o boliche brasileiro necessita melhorar seus
resultados em cerca de 7%, para poder disputar as medalhas. O principal obstáculo é o
arsenal de bolas inferior que os brasileiros possuem. Evidentemente, após conseguir
um arsenal atualizado é preciso algum tempo para aprender a usá-lo.
Dentro das regras atuais existem apenas dois caminhos para atingirmos as medalhas de ouro:
1 - Generoso patrocínio, garantindo a cada jogador de elite um arsenal de 30 bolas dentro
do limite de uso (digamos, menos de 80 partidas). Uma tentativa de tornar menos
dispendioso o patrocínio seria instalar equipamento de extrair óleo das bolas, a quente;
2- A adoção do estilo helicóptero, aperfeiçoado pelos chineses de Taipe, o que levaria
uns 8 anos para dar frutos. Esse estilo, menosprezado pelos experts americanos, torna
mínima a influência do óleo sobre a ação da bola. Em contrapartida, apesar das
negativas dos asiáticos, deve arrebentar a mão dos jogadores.
(agosto/99)
[TOPO]
|
O
ESTILO HELICÓPTERO
O estilo helicóptero, muito usado no oriente,
começou a consolidar-se internacionalmente em 1995. Há quem afirme que ele nasceu na
década de 1980 em Taiwan, entretanto lá por 1970 já havia no Rio de Janeiro um jogador
(Alex) que o empregava, sendo de todo improvável que o tenha inventado.
Nos torneios AMF de 1997 e 1998 bem como no da FIQ de 1998, o helicóptero levou vantagem
sobre o hook. Jogadores americanos talentosos como Pat Healey e John Gaines bem como o
mexicano Mário Quintero foram superados pelo helicóptero de C. M. Yang de Taiwan.
Inicialmente o helicóptero apresentava dois defeitos: Só era vantajoso em pistas secas e
exercia tensões anormais na mão que acabavam por deformá-la. Dizem os jogadores
asiáticos que o atual helicóptero superou tais desvantagens.
Existem algumas variantes do helicóptero, sendo a de Taiwan considerada a melhor. Os
aprendizes empregam uma versão simplificada, o semi-helicóptero.
Os mestres do helicóptero usam 2 ou 3 bolas de 12 ou 11 libras, obtendo até umas 400
rpm. Não tem de se preocupar com as variações de óleo na pista e atingem médias de
230 nos torneios internacionais. O track na bola é semelhante ao de um spinner. O polegar
sai após os dedos.
Apesar da supremacia do helicóptero sobre o hook nos últimos confrontos, os americanos
não se mostram preocupados. Seu argumento final é: "Se fosse assim tão bom,
estaria sendo utilizado no Tour da PBA".
(maio/99)
[TOPO] |
APRENDIZADO SOBRE BOLAS
No ano de 1998 procurei atualizar-me no assunto
bolas de boliche pela leitura da revista Bowling This Month e de mensagens no grupo
alt.sport.bowling, bem como por correspondência com alguns jogadores top e experts
americanos. Tento resumir o que aprendi:
1) Bolas reativas só interessam à jogadores de elite que estejam dispostos à,
periodicamente, extrair o óleo entranhado e a dispender o capital necessário para manter
um plantel de bolas bem equilibrado e atualizado. Jogadores com média até 170 ou 175
devem manter-se afastados das reativas.
2) A bola de acrílico, que certo tempo foi uma esperança de progresso, está
definitivamente esquecida pelos fabricantes.
3) As novas bolas proativas da Brunswick e sua assemelhada da Ebonite parecem ser
especialmente indicadas para "abrir" as pistas.
4) A Brunswick, com seus recursos técnicos (super CATS e Throbot) que eliminam muitas das
incertezas está aparelhada para grandes progressos nas bolas.
5) Existem nos USA cerca de 150 modelos de bolas à venda tornando ainda mais complicada a
escolha.
6) Um típico amador de elite americano possui de 20 a 30 bolas das quais escolhe de 6 a
10 para levar a um torneio.
7) Bolas reativas e agora as proativas são essenciais aos profissionais e amadores top.
As médias anuais dos profissionais subiram cerca de 10 pinos com essas bolas.
8) A otimização da bola com a pista e o jogador representa até 20 pinos a mais na
média do torneio. O processo de otimização é parte ciência e parte tentativa.
9) Já se vêem profissionais jogando com bolas diferentes, uma para a pista da esquerda e
outra para a da direita.
10) Renomado instrutor americano afirma que apenas um terço dos seus alunos possui bolas
com boa furação. Outro terço tem furação sofrível e o restante furação errônea
que prejudica o estilo.
[TOPO]
|
ALERTANDO
OS DIRIGENTES DO BOLICHE NO BRASIL
O boliche brasileiro está desorientado. É
preciso que as federações estaduais cuidem do problema.
Existem três tipos de jogadores de boliche: o ocasional, o habitual social (também
chamado jogador de Liga) e o habitual de elite. A história do bowling comprova que
somente o tipo intermediário que tem capacidade de garantir, ano após ano, as 15
linhas por pista por dia necessárias à sobrevivência do boliche.
Desprezado pelos donos de boliche e incapaz de competir com a elite, o jogador de Liga
acaba se afastando. Começa então a anemia financeira do boliche, que pode ser
momentaneamente disfarçada pelo canto de sereia do jogador ocasional mas um dia ser
sentida.
No Rio de Janeiro, já vimos esse filme nos anos 70. Parece que agora querem
reprisá-lo.
nov/98
[TOPO] |
BOWLING MODERNO
Segundo a revista Bowling This Month (BTM),
o aparecimento das bolas reativas modificou a maneira mais efetiva de arremessar a bola.
Anteriormente, mantinha-se o pulso fixo, em posição reta ou curvada para dentro. Hoje
ensina-se que o arremesso deve ser feito com o pulso móvel.
A BTM descreve três arremessos modernos: yo-yo, frisbee e football.
Como conseqüência, está diminuindo a quantidade de jogadores que usam braçadeiras. Uma
notável exceção no Tour da PBA é Pete Weber.
[TOPO] |
PERGUNTAS
Minha avó as chamava "perguntas de
algibeira". Guardadas no bolso, eram utilizadas em saraus de modo a testemunharem os
dotes de cultura do mancebo.
Indagar, por exemplo, "qual o nome da nau com que Cabral chegou ao Brasil ?",
rendia acalorada discussão onde o interlocutor tinha condição de se fazer notar. Poucos
exibiam a coragem de dizer que desconheciam a resposta. Ninguém na sala, a não ser o
"dono" da pergunta, sabia que a História não registrou o nome dessa nau.
No mundo do boliche do Brasil, pode-se preparar muitas perguntas desse tipo. Algumas
terão até uma faceta humorística:
- Já localizou o seu PAP ?
- Prefere a furação leverage, label ou axis ?
- Qual o flare desta bola ?
- Vai furar a bola com alinhamento 12h ?
Se estivéssemos nos EUA veríamos que a maioria dos jogadores de elite as responderiam
corretamente. O que para nós são perguntas de algibeira, para eles são detalhes
técnicos necessários à permanência no topo.
[TOPO] |