PAN AMERICANO FEMININO 2008

EU VIVI O SONHO AMERICANO!
por Karla Redig

Prometi ao Bira, quando ainda estava viajando, que faria um relato um pouco mais detalhado do que foi essa experiência de jogar ao lado de pessoas que consideramos nossas “ídolas”!

Então aí vai!

Há exatamente nove meses atrás quando entrei na página do www.bowl.com, coisa que faço quase que diariamente, e me deparei com a seleção que representaria os Estados Unidos no Pan Americano Feminino do Chile.

Falei para mim mesma que estaria lá de qualquer maneira.  Nesse mesmo dia, lembro que comentei com o Márcio que a seleção masculina, de malas prontas para a Tailândia, era maravilhosa e que eu estaria indo ao Chile, custasse o que custasse.

Já tinha posto na minha cabeça que mesmo que fosse para assistir, lá estaria eu, em Santiago em meados de Outubro. Planejei minhas férias na empresa para essa data e me programei financeiramente para realizar essa viagem.

No entanto, o mundo sorriu para mim e, estando em 6.º lugar no ranking nacional, garanti também uma vaga na equipe que estaria jogando ao lado do “Dream Team” americano.

Contava os dias para rever pessoas que ficaram minhas amigas nesses dois últimos anos e com quem vinha sempre trocando E-mails: Lynda Barnes, Diandra Asbaty, a técnica Jeri Edwards e a Gerente da Equipe, Pat Winkels.

No entanto, contava mesmo os dias para ver jogar ao vivo e a cores a Carolyn Dorin-Ballard e, principalmente, a Liz Johnson que foi a primeira mulher a participar de uma final da PBA televisionada. As demais, Kelly Kulick e Wendy Macpherson tenho que confessar que fui buscar informações sobre elas no site do Team USA, mas mesmo assim estava também ansiosa para vê-las jogar.

Chegamos em Santiago e as primeiras pessoas que vimos foram as americanas, que tinham saído para fazer um city-tour naquele dia e estavam chegando de volta ao hotel na mesma hora em que chegávamos de viagem.

Educadamente nos cumprimentaram até que a Pat Winkels e Jeri vieram falar comigo e também com todas as demais atletas. Nessa hora, a Pat me contou que ela tinha sido assaltada no dia anterior e sem que ela percebesse, levaram a sua carteira com 3 mil dólares, seus cartões de crédito e seu passaporte. Alertava-nos para tomar cuidado e ficar de olhos bem abertos.

Dia seguinte, treino oficial e uma nuvem de pessoas atrás da pista das americanas. Realmente o treino delas impressionava, principalmente pela força que a bola batia nos pinos. Entre nós, dizíamos que o campeonato traria partidas altas e possivelmente vários 300 (mais tarde vimos que não foi nada disso, ficando apenas a Kelly Kulick com o único 300 do campeonato)

A noite foi a festa de abertura no próprio hotel e já nos programávamos para tirar uma foto com a equipe americana. No entanto, elas ainda pareciam intocáveis para todas as demais participantes.

Era muito engraçado pois você conseguia perceber que todas ali queriam uma foto com elas mas ninguém queria pedir. Foi aí que a cara de pau dos brasileiros reinou e eu pedi para tirarmos uma foto com elas. Nem me dei conta que a Dayse tinha se ausentado e quando formamos para a foto, vários flashes pipocaram. Nos sentimos muito importante. Elas agradeceram a foto e a partir daí não tiveram mais sossego. Todas as equipes quiseram posar com as americanas. Elas, sempre solícitas, tiraram foto com todas.

O campeonato começou e elas mostraram para o que vieram ao terminar o primeiro dia com mais de 220 de média nas seis jogadoras.

A partir do segundo dia, já comecei a me aproximar mais de todas, pois a Jeri e a Pat tinham dito a elas que o que precisassem em termos de tradução que podiam me pedir a vontade. Assim sendo, virei a intérprete oficial das americanas mesmo dizendo que falava português e não espanhol.

A Liz e a Kelly sempre me pediam para ir comprar comida com elas, pois todas as vezes que foram sozinhas, pediram uma coisa e acabaram comendo outra. A Wendy e Carolyn pediam mais a parte de cambio e também de comida. E por fim, ficávamos sempre que dava, conversando. Me senti uma privilegiada.

No dia de equipe foi a realização de um sonho: jogar com as americanas na pista. Durante todo o campeonato, por sorteio, a equipe americana sempre largava no par de pista à nossa direita, logo, não tivemos a chance de jogar na mesma pista com elas. No entanto, na fase de equipe, a jogadora que ficasse de fora, jogaria as 6 linhas com uma americana, e a 1ª linha da 2ª fase seria com toda a equipe americana. A privilegiada foi eu !!!

Joguei a primeira série com a Wendy Macphearson que já classificada para a final Maestro, passou as 3 linhas conversando comigo. Falava da sua experiência no Tour Japonês que ela participa e da gratificação que era fazer parte pela primeira vez do Team USA. Que aquilo para ela era um privilégio e um sonho sendo realizado;

A segunda série joguei com a Diandra mas aqui vale o relato que farei da experiência de jogar com as seis na mesma pista.

Realmente era um momento emocionante não só para mim mas também para a peruana e chilena que eram as nossas companheiras de pistas. Todas nós estávamos ciente do momento único e inesquecível que estávamos vivendo.

Algumas coisas me chamaram atenção nessa partida:

1. As americanas permaneceram a partida toda em pé em linha, uma atrás da outra, vendo onde a jogadora anterior estava jogando.

2. Após cada frame, antes de voltar para a formação em linha, conversavam com a Jeri.

3. Antes de uma se dirigir à outra para dar alguma opinião no jogo, perguntavam à Jeri se poderiam falar, e SEMPRE a Jeri autorizou.

4. Como só cabia uma bola de cada jogadora no retorno, sempre que era necessário a utilização da bola de spare, a primeira jogadora da fila já estava com a bola na mão para entregar para a jogadora.

5. Quando acabava o frame, a jogadora que jogaria o próximo frame retirava a bola de spare da atleta da pista e entregava para a próxima da fila que a colocava no chão.

Algumas dessas coisas foram vistas não só nessa partida mas durante todo o jogo. Na fase de equipes, a Diandra jogava o seu frame e depois juntava-se às outras atletas até que chegasse novamente a sua vez. Todas assistiam pelo menos a metade da série das demais colegas, tanto é que quando a Kelly bateu o seu 300, todas as 6 americanas estavam no boliche.

Todas ajudam na hora de guardar as bolas das companheiras e todas tinham o sentimento de equipe. Talvez, o que mais me tenha chamado a atenção foi a presença delas no pódio pois, a cada vez que tocava o hino nacional americano, elas colocavam a mão no peito e cantavam o hino com os olhos cheios de água.

No entanto, uma história me chamou muito a atenção logo no primeiro dia de competição. Voltávamos para o hotel no ônibus após a fase individual quando a Wendy tinha tido uma apresentação bem discreta comparada às demais americanas. A Diandra conversava com a colombiana Paola Gomez, falando do orgulho que era para ela fazer parte daquele Dream Team. Como ela estava feliz por ser parte daquele grupo e mais feliz ainda por estar dividindo quarto com a Wendy, pois ela começou a jogar boliche se espelhando na Wendy. De imediato traduzi o que ela havia acabado de dizer para as demais brasileiras pois até então, todas questionavam a presença da Wendy ali ao invés de uma Shannon ou até da Tennelle.

Eu poderia continuar por horas e horas falando dessa experiência única que foi jogar com as americanas mas algumas lições ficaram e acho que vale para todos:

1. O TEAM USA é um TIME !

2. Elas são humanas ! Erram spare, vibram nos strikes, comemoram strikes um e dois !!!

3. Quem manda e desmanda é a Comissão Técnica. Não existe qualquer influência de jogadores, maridos ou pais no time.

4. Todas assinam um termo de compromisso quando saem para representar os Estados Unidos em eventos no qual é proibido beber, desrespeitar os colegas e dizendo como devem se comportar. Qualquer deslize significa voltar no primeiro vôo de volta aos Estados Unidos.

5. Elas não ganham para fazer parte do time. Fazer parte do Team USA é uma honra.  Basta ver a atitude delas no pódio.

6. Como cada uma mora em uma parte dos Estados Unidos, sempre que é divulgado o óleo da competição, a Jeri envia um email para todas com as suas considerações e um programa de treinamento recomendado.

7. Não existe competição entre elas no próprio time. Todas estão aguardando ansiosamente a convocação do TEAM USA 2009. 5 Jogadoras serão escolhidas essa semana. 3 ou 5 sairão de um torneio eliminatório em Dezembro em Las Vegas e as outras 2 serão escolhidas pela Comissão Técnica.

Para finalizar, já adianto aqui que em Julho de 2009 estarei em Las Vegas no Mundial Feminino custe o que custar... mandarei mais notícias de lá !!!

outubro.2008


Para saber mais sobre a participação brasileira no Pan-americano Feminino no Chile, clique aqui...

 

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