Onde está o melhor do nosso jogo?

Não é a toa que o Márcio e a Lúcia lideraram o Campeonato Brasileiro de Clubes (CBC-2004). Quem vê os profissionais na TV pode observar que várias vezes eles jogam pela seta do meio ou à esquerda desta. Por que? Porque, dependendo do condicionamento, a zona central da pista fica mais seca e as laterais com mais óleo, como foi neste CBC-2004, condição essa acentuada a cada dia.

A condição ideal para se jogar boliche é ter cabeceira rápida (a bola avança sem esforço e variações de saque são minimizadas) e arremate limpo (a bola reage bem mesmo com variações de saque). Ora, as condições do CBC-2004 apresentavam mais óleo quanto mais se chegava para as extremidades. Se o jogador tentasse a seta 2 sem abrir muito, qualquer erro para a direita levava ao pino 6, 1-10, 2-10, etc. Qualquer erro para a esquerda, ao pino 7. Quanto mais tentasse chegar para a esquerda, estaria largando a bola em cabeceira mais seca, o que piorava o resultado e a constância. A cabeceira rápida mantém a energia da bola até os pinos. O encaixe está nas tabuas 17-18, assim a bola vai até a tábua 14-15 (na direção da seta 3) e então faz o break point para chegar forte no encaixe.

Acrescente-se que a maioria estava jogando pela 2, 2 e meio, e arrastava óleo para o arremate em frente ao pino 3, o que piorava mais ainda. Qual a solução dos profissionais, do Márcio e  da Lúcia? Sair à esquerda da seta 3 da esquerda, abrir a bola ate a 3, 3 1/2, e manter o pocket.

Ficou fácil ver que tinham a cabeceira rápida, a dos canhotos, e o arremate bom, o meio da pista, seco e sem arraste, pois praticamente ninguém jogava por ali.

Por que, sabendo a solução, não fui bem?

Primeiro porque acabei me enganando, achando que a jogada que fiz da 4.ª até a 12.ª linha com a bola "Fuze" serviria e "burramente" insisti nela. Afinal, terminei com 650 no primeiro dia e fiz 1233 no segundo. O problema é que no segundo dia jogamos no piso térreo do Planet Bowling, onde o meio das pistas estava mais rápido. No piso superior, a cada dia, o meio ficou mais seco e me dei mal, inclusive fritando 10 pinos em 12 linhas por não cair a ficha.

Segundo porque o retorno mais largo do Planet Bowling e minhas condições de joelho ainda um pouco precárias me acovardaram em tentar esta linha de jogo. No boliche não podemos pecar por covardia ou acomodação, como fiz.

Terceiro por falta de foco, falta de pensar na "solucionática" com mais vontade ou intensidade. Afinal, vi o Márcio jogar de perto nos dois últimos dias. Mas minha mente estava dispersa, pensando em colocações, em ajudar nosso time para o dia seguinte (temos que pensar o que podemos fazer para melhorar nosso jogo agora, amanhã é outro caso), listagens, possibilidade de medalha, etc, e isto custou caro.

Tudo bem intencionado, mas de gente bem intencionada o cemitério, vara de divórcio e falências estão cheios.

Agora, fora da situação, vejo claro que a dica ao ver o Márcio era imperdível, mas na hora ...

Dar uma olhadinha no líder é um dos melhores caminhos para achar a pista. E, para poder aproveitar, é preciso treinar para saber jogar em qualquer seta, não somente a jogadinha favorita.

Nem sempre o jogo está onde queremos e nos sentimos mais à vontade.

Décio Abreu (dgaf@uol.com.br)
Atleta mineiro

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