SOBRE CONVOCAÇÕES E VAGAS TÉCNICAS
Augusto Galvão
Sem sombra de dúvida, nenhum assunto tem mobilizado com tanta
intensidade a comunidade do Boliche Brasileiro quanto a convocação de atletas para os
eventos internacionais. Opiniões apaixonadas têm sido emitidas, comparando, inclusive,
os critérios da CBBOL com os critérios de convocação da Seleção Brasileira de
Futebol.
Evidentemente que cada um tem sua razão nos argumentos, dependendo do ponto de vista da
abordagem.
Na condição de presidente de Federação sou totalmente contrário à exclusividade de
convocação pelo ranking. Nesse ponto, não posso deixar de concordar com o Marco
Aurélio (CBBOL) que considera a convocação apenas pelo ranking como uma atitude covarde
de quem convoca, já que estaria se eximindo de qualquer responsabilidade sobre os
convocados.
Não posso concordar, também, com a formação de seleções com todas as vagas
técnicas, a exemplo do que ocorre no futebol (onde não existe nem ranking), como
defendem alguns. É muito clara a diferença entre uma equipe de futebol, onde cada um dos
atletas joga em função dos demais, e uma equipe de boliche, onde cada jogo é individual
(a não ser que se esteja falando de "dupla canadense" ou "sistema
baker").
Na realidade, o resultado do jogo de uma seleção de futebol é função do conjunto dos
atletas. No boliche, ao contrário, o resultado é o somatório de cada performance
individual.
No futebol, os membros da equipe se complementam. E cada um tem uma função específica
dentro do conjunto. Há que se montar uma equipe com jogadores de ataque, meio campo e
defesa. E nem todos podem ser destros; ou canhotos. É de boa estratégia que se faça uma
mesclagem de atacantes extremamente habilidosos e de refinada técnica com um artilheiro
rompedor, mesmo sem muito brilho técnico. Jogadores de forte marcação com jogadores de
criação para compor o meio de campo. E por aí vai.
No boliche, não há a preocupação de montar uma equipe misturando jogadores destros com
canhotos. Jogadores que giram "zilhões" de vezes com jogadores que jogam
"retobol", ou "helicóptero". Especialista em pino dez e especialista
em pino sete. Sem esquecer do fechador de "baby split" e do fechador de
"garaginha". Nada disso ocorre. A equipe do boliche tem que ser composta por
atletas que derrubem o maior número possível de pinos, dentre todos aqueles que estão
legalmente filiados à federação ou à confederação, conforme o caso.
Verdade que existem atletas ditos técnicos que não admitem estar na mesma equipe com
atletas que não giram "x" vezes bola no seu arremesso; ou atletas com os quais
possa não ter relação de amizade. Mas isso não vem ao caso.
É claro que, por uma questão de critério de definição do ranking, por uma
circunstância qualquer, pode um atleta de reconhecida capacidade de derrubar pinos não
estar entre os primeiros colocados. Por exemplo, um atleta que historicamente tenha tido
bons resultados e só tenha participado de um reduzido número de torneios homologados.
Ou, não é impossível acontecer, o surgimento de um atleta tipo fenômeno, com
participação em dois ou três torneios anteriores a uma convocação, com alta média e
sem pontos suficientes no ranking.
Poderia até ilustrar com um exemplo hipotético. Suponhamos que o Alfonso Rodrigues, de
repente, resolvesse naturalizar-se brasileiro em setembro, e filiar-se à FBDF. Disputaria
dois torneios e faria uma média de 220 pinos. Sem pontuação no ranking, ficaria de fora
de uma seleção brasiliense? Caso o critério fosse exclusivamente ranking,
sim. Seria bom para a minha seleção? Não.
Claro está que o critério de vaga técnica é uma necessidade.
O que se deve exigir, no entanto, é que efetivamente haja critério na
convocação técnica.
Sou de opinião que o atleta que batalha, se esforça, investe, disputa os torneios,
aprimora o seu jogo e galga as posições mais altas, tem que ser contemplado; tem que ter
reconhecido o seu mérito. Da mesma maneira, as diretorias das entidades têm que ter a
possibilidade de convocar um atleta que, embora não esteja na ponta do ranking, tenha
efetiva capacidade de resultados; ou para investir em um emergente atleta que necessite
adquirir experiência.
Acredito que uma ou até duas vagas podem ser reservadas para o critério técnico. As
demais, pelo mérito: ranking ou torneio seletivo. E que o critério de preenchimento para
eventuais desistências, seja feito dentro da mesma categoria. Não é justo preencher
vaga de ranking por critério técnico.
Quanto aos aspectos: "Fulano não joga com Sicrano porque não gosta do jogo dele.
Beltrano jamais vai jogar em equipe que eu montar"; ao meu ver não merecem
qualquer comentário e não contribuem em nada para o nosso esporte.
11/02/00