Por que o óleo muda?

O meu artigo anterior terminou com o parágrafo que vou iniciar este: Em muitos campeonatos já ouvi jogador dizer que mudaram o óleo de um dia para o outro ou que ajeitaram o óleo para favorecer este ou aquele competidor. O que ele não percebe e que o problema muitas vezes esta na sua própria bola, e que a mesma não esta reagindo igual ao dia anterior por vários fatores. Principalmente, por ele não ter trabalhado a superfície da bola depois do turno jogado. É evidente que no dia seguinte a bola não vai reagir da mesma forma. Se ele está jogando num óleo pesado a bola vai absorver muito óleo e perderá aderência,  no dia seguinte o óleo vai parecer mais longo e mais pesado. Se estiver jogando num óleo curto a bola vai tracionar mais e o óleo curto vai parecer mais curto ainda.

Outro elemento importante para o dia seguinte é saber quem jogará no mesmo par de pistas que você e quem estará jogando à sua direita. A reação do óleo certamente será diferente dependendo da região, tipo de bolas e superfícies que os outros jogadores estão usando no seu par de pistas e nas pistas à sua direita.

Por exemplo: hoje jogaram no mesmo par de pistas que você os girudos mais inside (usando mais o meio de pista) com bolas de médio desempenho ou superfície polida, amanhã jogadores com um jogo mais frontal  jogando outside (usando da zona de track para fora) com bolas de alto desempenho e superfície forte. O óleo jamais vai se comportar da mesma maneira, até porque características de jogos diferentes, regiões, superfícies de bolas diferentes ocasionam reação do óleo diferente.

Horário dos jogos também é fator de interferência no comportamento do óleo. Vejamos: você joga hoje no horário da manhã em um boliche de 24 pistas, nesse horário a temperatura externa do boliche é mais fresca e, conseqüentemente, dentro do boliche também vai estar mais fresco. Estão no boliche os jogadores do turno, dois garçons e alguns poucos familiares de jogadores. A quantidade de pessoas vai determinar temperatura ambiente e a umidade relativa do ar. À medida que vai se aproximando o final do seu turno, vão chegando os jogadores para o segundo turno mais os familiares, alguns curiosos e mais gente trabalhando no atendimento. Já estamos falando em mais que o dobro de pessoas. Do lado de fora do boliche a temperatura subiu alguns graus (já passa do meio dia) o teto do boliche esta muito mais quente e conseqüentemente a temperatura ambiente e a umidade relativa não são as mesmas.

Somando todos esses fatores o óleo não se comporta igual cada dia em cada turno. Reze para não chover e para que não haja grandes mudanças climáticas...

Outra coisa que poucos levam em consideração é como são usadas no dia a dia as pistas do boliche onde haverá a competição. Hoje, você jogou do lado esquerdo do boliche onde normalmente não se joga bolotes, torneios e ligas. Então, estas pistas terão um track diferente das pistas do lado direito do boliche onde acontecem jogos de liga e bolotes duas vezes por semana. Provavelmente as pistas da direita, estarão com um track diferente causado pelos jogadores e pelas bolas reativas e serão mais lentas ou  com mais arremate. Isto ocorre por serem condicionadas, lavadas e usadas de forma diferente das do outro lado do boliche. Em pistas onde o uso é de público ocasional as pistas têm mais desgaste no meio de pista e pouco track na zona de arremate. Em pistas onde jogam federados tem maior desgaste  a direita da pista e mais track na zona de arremate causado pelas bolas de superfície mais agressivas.

Outro ponto importante: a cada dia de competição as pistas vão ficando com o arremate mais limpo, isto porque no dia a dia dos boliches o condicionamento e limpeza das pistas não são feitos da mesma forma que nos dias de competições.

O que muda de um boliche para outro? Temperatura, umidade, superfície (tipo de sintético), ano de fabricação e fabricante, condições de uso (limpeza e manutenção) maquina de óleo modelo e marca tipo de óleo mais ou menos viscoso. Se o boliche é usado freqüentemente para competições ou não, topografia (relevo). Parece exagero, mas a topografia tem fundamental influência na reação da bola.

Contarei um "causo"… Pan-Americano de Porto Rico 2009, Márcio Vieira faz um arremesso e ficam os pinos 4 e7, ele se posiciona corretamente para jogar o spare, a bola cruza a pista e... "poff"... só cai o pino 4. Como assim? Jogando na diagonal com bola de spare, saque forward. Detalhe: óleo longo. Não poderia ter dado "poff" nunca… mas deu!  A bola chegou aos pinos como se ele tivesse jogado backup, havia um desnível muito importante na pista. O desnível é imperceptível a olho nu, mas a bola sempre sentirá o relevo da pista. Neste caso você pode imaginar a diferença que havia de uma pista para outra e de um par para outro.

É por todos estes fatores que é muito improvável obtermos o mesmo resultado de condicionamento, inclusive se usarmos a mesma máquina com o mesmo programa e o mesmo óleo em boliches diferentes. Invariavelmente o condicionamento será diferente. Desta forma a probabilidade de ter que usar  ou mudar a superfície do seu  equipamento para um suposto mesmo óleo, também é real.

Estes são alguns pontos importantes que o jogador deve levar em conta para tentar entender porque o óleo não está igual todos os dias de competição. Tem outros fatores que muitas vezes são confundidos com mudança de óleo, pontos que são as variações de estado físico do jogador e estado emocional. Mas isso também e assunto para outro dia.

“Mantenha o olho na seta e na bola”

Benê Villa

janeiro/2012

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