por
James Bradfield
Ele
se foi. Precocemente.
Mas
deixou-nos muitas e muitas coisas.
Seriedade,
determinação, alegria, simpatia, vontade, conhecimento, convicção,
coragem, ironia, bravura, elegância, entre centenas de outras coisas.
Jogou
como ninguém. Fazia strike como só ele sabia. Sem força, mas com
uma precisão incrível. Mostrou para muita gente que boliche não é
força. É jeito.
Matava
pino dez, com um back-up elegantíssimo.
E,
era, sem sombra de dúvidas, o melhor organizador de torneios que
conheci. Independentemente dos bolinhos de chuva e das macarronadas,
que preparava, sempre as suas próprias custas, com um único
objetivo: agradar as pessoas.
Conheci
o Zé, há muitos e muitos anos, no Gran Boliche, na Av. Santo Amaro,
no tempo em que as pistas não eram automáticas. Eu era um garoto,
que já gostava de boliche e me deliciava em ver aquele cidadão
jogando e as bolas fazendo curvas. E, como fazia strikes...
Conversava
com todos. Atencioso e simpático dava dicas de como jogar. Já
naquela época.
Vim
a ser seu amigo, anos mais tarde, já em sua fase de organizador de
torneios.
Todos,
sem exceção, foram maravilhosos.
Certa
vez, escorreguei no aproach. Meus sapatos molharam em alguma coisa que
pisei e, quando fui jogar, quase cai. Voltei meio sem jeito e, lá
estava o Zé Veiga, com uma escova para que eu passasse na sola do
sapato. Me deu a escova de presente. Guardo-a até hoje com imenso
carinho.
Um
perfeccionista em tudo que fazia. Irritava-se com si mesmo, quando
alguma coisa dava errado.
Apreciador
de boas músicas e bons filmes. Dono de uma ironia sutil, elegante.
Religioso.
Seria
bom que as pessoas contassem as histórias com o Zé. Devem ser
milhares.
O
último e-mail que recebi do Veiga continha uma oração. Quase que
antevendo o futuro. A última mensagem dele, no site do Bira, quando
provavelmente só tinha forças para teclar aquelas palavras, minutos
antes de nos deixar. Disse, “Deve
estar chegando minha hora. Faz parte da vida”. E concluiu com
sua ironia peculiar: “Água
no pulmão acho que descobri que pode ser tanto bolinho de
"chuva" né? Kkk”.
E,
se foi, nos largando um vazio imenso. Um aperto no coração e a
certeza de que outro Veiga, não surgirá tão cedo em nossas vidas.
Vai
em paz meu irmão, Zé Veiga. Algum dia nos veremos.