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Do
céu ao céu – sem switch
–
a Taça Rio 2009
(por
Paulo Feijó)
O Torneio
Acho que todos nós deveríamos relatar, após um torneio, como o
mesmo se deu, e como foi nosso desempenho, até para que não nos esqueçamos
e possamos ir acumulando experiência com mais facilidade.
No meu caso, contudo, o relato se dá como forma de resumir como
foi o evento, para os presentes e ausentes, e por um motivo um pouco
mais dramático, qual seja, a contusão que sofri no segundo dia da XX
Taça Rio – 2009.
O evento ocorreu simultaneamente no Norte Shopping (divisão
feminina e 1.ª e 2.ª divisões masculinas) e Casa Shopping (3.ª e 4.ª
divisões masculinas) e, para mim, começou excepcionalmente: em uma
“zebra” histórica, eu e o Álvaro Ferreira também aqui do Rio,
terminamos o primeiro dia liderando no Norte Bowling, seis pinos à
frente da dupla Charles Robini e Marcelo Suartz. Corremos as 3 pistas
mais à esquerda utilizadas (19/20 em um boliche de 26) e as 3 da
direita, inclusive a 1/2, muito criticada por vários atletas.
Neste
boliche as condições de jogo foram bem complicadas, e embora tivéssemos
poucos canhotos, o lado esquerdo também estava bem complicado. Fiquei
imaginando o lado direito, com tráfego e tudo mais. Acho que se fosse
destro já teria desistido...
No segundo dia que tudo aconteceu. O esperado – Marcelo e
Charles disparando em primeiro – e o inesperado – meu acidente.
A contusão
Como de costume, estava jogando mal, e após perceber que o
boliche estava reverso (ao menos do lado esquerdo), troquei de bola e
vim para o meio da pista. No quinto arremesso da terceira linha
(terceiro arremesso com a bola “Big One”) meu dedão prendeu, e o
copo do plug soltou da bola.
Como
no anúncio da Tostines, não sei se o copo do plug
soltou porque eu girei e prendi o dedão, ou se o dedão girou e prendeu
porque o copo do plug soltou. Fato é que, como normalmente acontece neste tipo de
situação, me “esborrachei” no chão, até porque o approach estava bastante rápido. Antes de cair, ainda me lembro de
ver a bola no ar, com o copo do plug
metade para fora. Durante a queda, me lembro de bater com a perna
direita e com o dedo médio da mão esquerda. Naturalmente, por um
reflexo instintivo, ao cair coloquei a mão esquerda para trás, para
amparar a queda, mas como estava de luva, não consegui dobrar o pulso
para trás e, com isto, o dedo médio serviu de apoio e, verticalmente,
sustentou todo o peso do meu corpo ao cair no chão.
Após
cair, fiz um rápido check list mental, e achei que não havia maiores problemas. Na
perna não tinha acontecido nada – foi só a pancada – mas, ao
tentar mexer o dedo médio da mão esquerda, ainda atrás do corpo, não
consegui. O primeiro pensamento foi: NMUÜ~,
perdi o torneio. O segundo e os seguintes foram piores: após ver o
dedo, tive a certeza de que se cuidava de uma fratura exposta, e entre a
incredulidade e a realidade, comecei a pensar que iria ter que operar a
mão, que não ia mais conseguir jogar boliche, que meu dedo ficaria com
seqüelas permanentes, etc. Ainda saí do approach
caminhando, mas um pouco atrás dos bancos, quando comecei a realizar
tudo, apaguei.
Me
lembro de várias pessoas, mas principalmente o Álvaro, falando comigo
o tempo todo e o Márcio (Vieira), que assim que viu o que tinha
ocorrido passou a pedir gelo, sem parar. Ao acordar tinha o Álvaro e a
Lúcia (Vieira) à frente, mas já me sentia bem – embora não
acreditassem – pois o susto tinha passado.
Ainda
conversei sobre o Hospital e o Luiz Alberto (Marques), que era o árbitro
por não poder jogar em razão de recente cirurgia no joelho, ia me
levar, mas algumas pessoas sugeriram um local mais perto – me lembro
da Dayse (Paim) recomendando e de perguntar à Denise (Duprat) se ela
conhecia.
Fui
levado pelo Sérgio (Paim) ao Hospital Pasteur onde, após breve espera,
fui muito bem atendido – a Dayse tinha razão ao indicar o local
destacando que a Ortopedia era gerida pela equipe do Dr. Runco, da Seleção
de Futebol. Logo no início do atendimento, após tirar o dedo do saco,
que já parecia mais recipiente de transporte de órgãos do que apenas
gelo, mais um susto: após sentar em um banco por indicação do médico
este, enquanto vestia a luva, me explicou que, aparentemente, era caso
de cirurgia e, possivelmente, de urgência. Nem preciso dizer. Só de
pensar em como isso seria comecei a suar, pedi para deitar, mas não
cheguei a desmaiar.
Poupando
a todos dos detalhes sórdidos, após duas dolorosas injeções para
fazer um “bloqueio” (tipo de anestesia) no dedo, o médico conseguiu
“colocar no lugar” os ossos deslocados – a segunda falange tinha
“subido” na primeira – e constatou que eu ainda conseguia mexer e
tensionar o dedo, me dando a boa notícia de que não teria que operar.
Como o tendão estava aparente, foi feita uma sutura no local e depois
tomei soro com antibiótico e antiinflamatório.
Ao
Sérgio, coitado, só tenho a agradecer: o tempo todo ali, me
acompanhando e apoiando, com a maior paciência, só dando uma
“saidinha para telefonar” na hora da sutura...
Segundo o médico, após retirar os pontos, o que deve acontecer
na próxima segunda-feira, dia 11, se tudo correr bem volto a ter vida
normal.
Para quem achou que tinha uma fratura exposta com ruptura do tendão
– o Márcio depois confessou que, ao colocar minha mão no gelo,
pensou que eu nunca mais jogaria boliche, e pude perceber bem a preocupação
das pessoas pela reação da Léa (Castro) quando cheguei mais tarde no
Casa Bowling – devo admitir que, graças a Deus, “saiu barato”. O
que era azar passou a ser sorte.
Sem switch
Ao contrário do que muitos
pensaram, não uso switch – nem
sweet, swift ou outras
grafias semelhantes... – há algum tempo. Ciente da minha incapacidade
técnica para usar o dito equipamento, voltei aos meus plugs, ao invés de ficar quebrando switch e tendo que repor o que não é barato.
Tenho o defeito de agarrar a bola, e o switch
não é feito para pessoas que têm este tipo de hábito. Aliás, em
minha análise quase leiga, acho que no Brasil, hoje, poucos atletas têm
utilidade, necessidade e capacidade de usar o switch.
Penso que este material sirva apenas para os atletas que têm uma
necessidade de sintonia fina altíssima no jogo, aliada a uma qualidade
de movimento e, em especial, de saque, que limita muito o número de
pessoas aptas em nosso país. Mas isto é apenas uma opinião...
Fato que, ao contrário do que muitos pensaram, meu acidente não
se deu por problemas com o switch, mas sim por um plug
na bola mais antiga que tenho, que pouco uso, e cuja cola pode ter se
soltado em função do tempo, das variações de temperatura e do stress sofrido pelo material em razão dos defeitos de minha forma
de jogar.
Voltando ao evento
Como o “show tem que continuar”, o Torneio prosseguiu e, no Norte Bowling,
onde o Thiago Fiorillo foi o organizador, exatamente como eu havia
previsto no dia anterior, ainda quando liderava o evento, a dupla
Charles e Marcelo se encontrou e “foi embora”, seguida por Caco e
Juliano, com as disputas abertas apenas para o terceiro lugar.
No feminino impressionou a dificuldade encontrada por muitas
atletas, mas o evento já era liderado por Roseli (Santos), Marizete (Scheer)
e Jacque (Costa) e suas respectivas duplas.
Foi utilizada uma fórmula interessante no evento, já usada aqui
no Rio anteriormente: no masculino, as divisões dentro de cada boliche
foram definidas pelo resultado dos dois primeiros dias e, no feminino,
ao invés de fazermos duas pequenas divisões, formamos uma divisão única,
sem e com handicap, o que se
tornou possível com o atual formato do ranking brasileiro.
No último dia, as coisas evoluíram sem surpresas. Após a
segunda linha, de 497 pinos, Charles e Marcelo praticamente definiram a
primeira divisão masculina, enquanto Caco e Juliano também tinham distância
segura para os terceiros colocados, que acabaram sendo Mário (Tavares)
e Eduardo (Bastos), aqui do Rio. No individual, Marcelo (Suartz)
confirmou o favoritismo, e deu show,
não apenas sendo o único atleta com média acima de 200, e grande
diferença para o segundo, mas jogando um boliche espetacular.
A segunda divisão masculina, com presenças ilustres, como do
vencedor do individual, Walter (Costa), teve disputa até a última
partida, com os bons baianos Bruno (Cezimbra) e Alan (Chastinet) levando
o título sobre Márcio (Martins) e Carlos Diogo, do Rio, que lideravam
até a antepenúltima linha. O terceiro lugar foi ainda mais disputado.
O Álvaro e o Carmine (Fiorillo), que me substituiu, entraram na última
linha apenas 19 pinos atrás do Paulo (Dias) e do Ricardo (Alonso), também
do Rio, que garantiram o bronze por apenas um pino, mas sobre a dupla
Walter e Chico (Macedo) de Minas dupla que, no final, ficou em quarto,
ultrapassando minha dupla.
No feminino destacaram-se, além das sempre vencedoras Roseli,
Marizete e Jacque, três primeiras do all
events individual sem handicap, as surpresas Cláudia (Siqueira) e Valéria (Moraes),
respectivamente primeira e segunda colocadas no individual com handicap.
Nas duplas sem handicap Marizete
e Jacque ganharam, seguidas de Roseli e Cláudia, e Tininha (Muelas) e
Sheila (Abreu), também com excelente desempenho, em terceiro. No
com handicap, Roseli e Cláudia
venceram, ficando a baiana sempre alto astral Rita (Ferraz) e Dayse (Paim)
com o vice, e Valéria (Moraes) e Márcia (Coelho) em terceiro.
Enquanto isso no Casa...
No Casa Bowling as condições de jogo eram, aparentemente, um
pouco melhores. Embora a passagem de óleo fosse a mesma, com máquinas
idênticas nos dois boliches, especificidades de cada pista e fatores
como tipo de uso e limpeza acabam por gerar diferenças.
O mais divertido, contudo, foi a “reclamação” do Celso
(Barata), de que tinha muitos canhotos no Casa – eram 8 entre 42
atletas – o que gerava um tráfego com o qual não estamos
acostumados. Aqui presto minha solidariedade, pois se fosse ele faria a
mesma reclamação: não sabemos ler mudança de pista. Não que não
queiramos, mas é por falta de canhoto mesmo, e quando temos tráfego
normalmente ficamos sem saber o que fazer, mas sei que este tipo de
reclamação irrita os destros, que convivem com este problema, e sempre
ouço alguns resmungos do John (O’Donnell) Jr., meu parceiro em
diversos eventos, quando ensaio este tipo de comentário.
Graças a minha contusão, pude passar para ver o pessoal no
Casa, a tempo de rever muitos amigos, prestigiar os atletas que ali
jogavam e poder informar a eles que o tratamento dado pela FBRJ para os
dois boliches, como sempre, foi idêntico, senão melhor para o Casa,
onde estava arbitrando a Milena (Carvalho) e organizando a Alessandra
(Alves), que fez os programas do evento. Temos que acabar com a diferença
de tratamento entre as primeiras e demais divisões. Todos pagam o mesmo
e têm que receber igual tratamento. Sem isso não conseguiremos
crescer.
Na pista, como sempre ocorre nas divisões posteriores à
primeira, muitas novidades. A terceira divisão foi vencida por Carlos
Delgado e Rodrigo Silva, os dois do Rio e, o último, canhoto, que também
ganhou o all events da
terceira. Em segundo ficaram Guilherme Vedovani e Cadu Sansone (RJ),
seguidos de Franz Erwin e Roberto Sampaio (BA). No individual, depois do
Rodrigo veio o Kléber (Sant’anna), também do Rio, e em terceiro
ficou o Celso (Barata), de São Paulo, que reclamou do tráfego dos
canhotos, mas levou o bronze.
A quarta divisão foi vencida pela dupla Luiz Figueiras e Daniel
Zibenberg, este voltando após algum tempo afastado, ambos do Rio,
seguidos de Takasy (Hashimoto)(BA) e Pedro Cherfen (RJ), nosso vencedor
do “Caldeirão do Huck”, e Ivan Braga (PE) e Rodrigo Franco (RJ). No
individual o Luiz Figueiras ganhou, com o (Naotaka) Urata em segundo e o
novato Eduardo Júnior em terceiro, todos do Rio.
Fechando o evento
Mais uma vez o saldo da Taça
Rio foi ótimo. O evento que ficou apenas três semanas após o
Brasileiro de Clubes realizado um mês após a Taça BH, e que sofreu
com a marcação simultânea da Taça Pinheiros
em São Paulo
, mesmo assim contou com grande comparecimento de atletas de fora do
Estado, e premiou o bom início de gestão do Danilo (Rocha),
presidente, Adilson (Balthazar), vice, e Otábio (Nakamura), financeiro,
à frente da FBRJ.
No meu caso ficam as boas lembranças: Da “tia” Rita,
atrasando a premiação do feminino com handicap
no Norte para passar o batom por conta da foto – está certíssima
– ao show do Marcelo Suartz
e o prazer de ver um brasileiro que certamente chegará ao topo do
boliche mundial jogando junto com o vice-líder do ranking nacional e divertidíssimo Charles – registre-se, que
pegou um pino 5 em seu último arremesso do evento – deixando a
esperança que possamos conseguir sucesso na renovação do esporte.
Isto
que temos que conseguir: aliar o lado do “esporte diversão” ao alto
rendimento, para que todos possam ficar satisfeitos, e o boliche possa
crescer.
Para mim o torneio foi uma pequena viagem, em ônibus circular,
do céu ao céu, passando pelo grande susto, com a ajuda de alguns anjos
– amigos dos quais recebi o carinho e a preocupação, e que zelaram
por mim todo o tempo, aos quais, juntamente com todos aqueles que se
solidarizam comigo, tenho apenas a agradecer – e proteção divina.
Saio apenas com uma lesão leve e, só para lembrar, mais certo do que
nunca: sem switch!
Paulo Feijó