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Boliche leva Pan do Rio ao shopping
Modalidade
quer provar no evento que é muito mais do que simples diversão
Por
Ary Cunha
Os
insistentes convites de um casal de amigos levaram Márcio e Lúcia
Vieira, ainda em clima de lua-de-mel, ao extinto "Meu
Boliche", em São Conrado. Quase três décadas depois, os laços
matrimoniais resistem firmes aos strikes da vida. Mas o que era
diversão de fim de semana virou esporte, obsessão e meio de sustento.
Márcio, de 53 anos, é sócio de uma pista na Zona Oeste e um dos oito
integrantes - quatro no feminino, quatro no masculino - da seleção
brasileira de boliche que vai representar o Brasil nos Jogos
Pan-Americanos de 2007. Lúcia é uma das treinadoras do Brasil.
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Normalmente, a roupa suja do boliche a gente lava em casa. A questão é
não lavar a roupa suja de casa na pista. Aí, atrapalha - brinca
Lúcia, que já disputou, como atleta, dois Jogos Pan-Americanos (Mar
del Plata, em 95, e Winnipeg, 99), ao lado do marido.
Embora
o boliche já faça parte do programa desde os Jogos de Havana, em 1991,
ainda causa surpresa em muita gente vê-lo na lista de modalidades. Nas
poucas pistas restantes da cidade - as duas principais na Barra da
Tijuca -, a maior parte do público é feita de crianças, jovens e
adultos que se reúnem para uma rodada de diversão e boas gargalhadas.
Testar as habilidades derrubando pinos com as bolas coloridas está
longe de ser coisa séria. Nada que incomode os que tentam o ouro para o
país anfitrião. Afinal, assim como Lúcia e Márcio, normalmente
atleta de boliche conhece primeiro o lado lúdico do esporte.
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As pessoas normalmente perguntam torcendo o nariz: "Boliche?"
Ninguém imagina que nós temos rankings, viajamos, treinamos e
disputamos competições. Acham que é pura brincadeira - explica
Roberta Rodrigues, recém-promovida à seleção brasileira adulta.
Por
do boliche, o Pan vai ao shopping. É a única modalidade disputada
dentro de um centro comercial. Por ora, o palco será o Barra Bowling,
no Barrashopping, Mas existe a possibilidade de a competição ser
transferida para outra pista mais ampla e moderna, a ser inaugurada mês
que vem no Norteshopping, perto do Estádio Olímpico João Havelange. O
boliche por pouco não fica fora neste Pan.
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O Boliche só não foi excluído do programa porque assinei um
compromisso de que não haveria qualquer custo para o Comitê Olímpico
Brasileiro - afirma Carlos Eduardo Cruz, diretor-técnico da
Confederação Brasileira de Boliche e sócio da pista na qual serão
disputadas as provas do Pan.
O
custo não é baixo para quem decide se dedicar a um esporte praticado
dentro de enormes templos de consumo. Apenas quando chegam à seleção
é que os atletas conseguem isenção de pagamento para treinos. Uma
realidade bem diferente de forças como Estados Unidos e Colômbia, que
têm ligas profissionais. Na Venezuela, existe até pista pública para
treinos.
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É uma atividade com um custo alto. Você tem de treinar sempre e uma
partida, com dez frames, custa entre R$ 35 e R$ 56. Entre outras coisas,
você precisa ter suas próprias bolas furadas sob medida. Jogar com
qualquer bola é como entrar de sapatilha no Maracanã. Derrota certa -
brinca Márcio Vieira.
Quando
o bolso pesa mais do que a idade
Embora
tenha um perfil elitista por conta dos altos custos com treinos, o
boliche tem a vantagem de ser praticado por diferentes gerações.
Roberta, de 17 anos, se preparou para os Jogos Sul-Americanos, em Buenos
Aires, ao lado de Márcio, de 53, e conseguiu o bronze. O que não
significa que a idade não pese na hora de dar o efeito correto na bola.
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Em 2001, lesionei o último disco da coluna depois de dar um mal jeito
nas costas ao lançar a bola. Até hoje faço RPG e jogo de cinta - diz
Márcio.
Instrutor
de boliche, o carioca Juliano Oliveira, de 28 anos, não abre mão da
preparação física, com exercícios aeróbicos, de musculação e
alongamento. Já houve caso de atleta que procurou o auxílio de
psicóloga para não hesitar na hora de decidir uma partida. Num esporte
em que os duelos individuais acontecem numa pista dividida com seu
oponente e arremessos alternados, concentração e sangue frio são
fundamentais.
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No boliche, é o atleta com os pinos. Se não tiver muita
concentração, perde para si próprio - explica Juliano.
O
fator campo divide opiniões. Há quem veja o fato de o Brasil ser
anfitrião como vantagem ou obstáculo a mais.
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A pressão de jogar em casa às vezes atrapalha - admite Márcio.
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Adoro jogar em casa. A força das pessoas ajuda muito - afirma Juliano.
Pan
no Rio não é brincadeira.