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25/06/04 - QUAL O RUMO CERTO?


22/06/2004 - 08h10

Governo fere Constituição ao bancar esporte, diz TCU

GUILHERME ROSEGUINI
da Folha de S.Paulo


O Ministério do Esporte não tem política definida para comandar o setor e fere a Constituição ao direcionar grande parte dos investimentos para atletas e modalidades de alto nível. A conclusão é do Tribunal de Contas da União, que elaborou levantamento sobre as políticas públicas de apoio ao esporte utilizadas no Brasil.

A iniciativa é inédita e surgiu depois que o TCU começou a trabalhar de forma mais intensa no âmbito esportivo. Desde 2002, o tribunal fiscaliza a aplicação dos recursos da Lei Piva, que destina 2% das verbas das loterias federais ao comitê olímpico e ao comitê paraolímpico do país.

O estudo abordou ações referentes ao período entre 2000 e 2003 e toca no ponto que mais gera celeuma na área.

Sai governo, entra governo, o debate sobre o destino das verbas públicas para esportes segue igual: vale mais investir na base --a longo prazo, formando atletas no nascedouro-- ou no topo, injetando recursos em atletas de elite que dão retorno imediato?

Para o TCU, a solução para a dúvida está na Constituição. O texto cita o artigo 217 para mostrar que a orientação seguida nos últimos anos está equivocada.

Diz o trecho que é dever do Estado fomentar a prática esportiva e observar "a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para o desporto de alto rendimento".

Não é o que se vê na realidade.

Nas duas gestões de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o Estado passou a aportar mais recursos no esporte via estatais ou por verba orçamentária --e a elite ganhou boa parte do dinheiro.

No governo Luiz Inácio Lula da Silva, que criou um ministério exclusivo para o setor, o patrocínio de estatais a esportes de alto rendimento cresceu ainda mais.

No período analisado pelo TCU, o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e o CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro) receberam, respectivamente, R$ 95,6 milhões e R$ 19,5 milhões da Lei Piva. Do orçamento de R$ 567 milhões que o ministério teve no mesmo período, apenas 6,4% foram designados, segundo o planejamento da pasta, ao esporte educacional.

No relatório, o TCU pede que o ministério formule "uma política nacional de esporte que, entre outras características, observe a Constituição, segundo a qual os recursos públicos deverão ser destinados prioritariamente ao desporto educacional".

No apanhado de informações sobre as ações públicas voltadas ao esporte, o tribunal concluiu que deslizes como a inadequação dos investimentos à Constituição ocorrem porque o ministério não define prioridades.

Na visão do TCU, falta uma "política nacional de esporte", um norte global para conduzir a atuação da pasta em todos os setores.

O relatório cita como exemplo a participação de empresas estatais no fomento das atividades esportivas. Entre 2000 e 2003, R$ 270 milhões saíram de organizações como Banco do Brasil, Petrobras, Correios, e Caixa Econômica Federal. Cerca de 97,6% desse montante, contudo, foi destinado ao esporte de alto rendimento, "em total inversão da orientação expressa na Constituição", segundo as palavras do relatório.

O TCU diz que, caso o Ministério tivesse um sistema bem definido de como pretende investir os seus recursos, poderia discutir com as estatais formas de fazer o dinheiro chegar também à base.

Agnelo Queiroz, que assumiu a pasta em 2003, avisou que iria priorizar a criação de projetos de inclusão social em sua gestão. Co-autor da Lei Piva e com forte apoio do COB, contudo, ele precisou atender também às modalidades competitivas.

Para o TCU, não resta dúvida de que o esporte e os atletas de alto rendimento ainda lideram --e com folga-- essa queda de braço.


22/06/2004 - 08h19

Pan-Americano de 2007 no Rio é novo alvo do tribunal

GUILHERME ROSEGUINI
da
Folha de S.Paulo

A mira agora está voltada para o Pan-Americano de 2007. O Tribunal de Contas da União acredita que o evento será uma das prioridades do Ministério do Esporte durante os próximos anos. E, justamente por isso, pretende escoltar passo a passo o que será feito no Rio.

A pasta de Agnelo Queiroz criou o Rumo ao Pan 2007 para destinar verba ao principal evento esportivo das Américas.

Como o Pan deve mexer com grande volume de dinheiro, o TCU quer fazer um acompanhamento do projeto. A fiscalização deve começar em julho ou agosto.

Entre 2004 e 2007, a pasta informou que deve investir R$ 172,7 milhões no Rumo ao Pan.

Na visão do tribunal, é importante iniciar desde já o acompanhamento, pois o programa vai investir em obras. Serão empregados recursos na construção e em reformas de diversas praças esportivas do Rio.

O TCU crê que, nesses casos, os efeitos estratégicos das verificações são mais eficientes quando as obras estão em andamento do que depois de finalizadas.

Outro programa que será acompanhado a fundo pelo órgão nos próximos anos é o Segundo Tempo, que sucederá o Esporte na Escola, criado em 2001.

É uma iniciativa conjunta do Ministério do Esporte e do Ministério da Educação e tem como objetivo democratizar o acesso à prática esportiva nas escolas.

Novamente, o volume de verba que o projeto deve movimentar fez o tribunal listá-lo como alvo de investigações. Entre 2004 e 2007, o Segundo Tempo deve receber R$ 138,6 milhões.

Ao contrário da Lei Piva, porém, os recursos do Ministério estão sujeitos a eventuais cortes orçamentários. Até maio, por exemplo, o Ministério dos Esporte gastou apenas 0,01% do que estava previsto. Ou seja: o valor que os projetos receberão pode mudar.

Para Orlando Silva Júnior, secretário-executivo da pasta, as fiscalizações do TCU nos programas Rumo ao Pan 2007 e Segundo Tempo são "muito positivas".

Segundo Silva Júnior, o TCU vai receber uma visita de membros do ministério nos próximos dias para apresentar detalhes da política que a pasta vai seguir.

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