Santo Domingo aproxima Brasil do recorde de medalhas em Pans,
faz festa de dirigentes, mas não ilude atletas
PÉ NA TÁBUA, PÉS NO CHÃO
ADALBERTO LEISTER FILHO
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os atletas brasileiros em Santo Domingo vão bem, abrem
frente na disputa pelo terceiro lugar com o Canadá e se aproximam de
bater o recorde de medalhas do país em Jogos Pan-Americanos, mas, ao
contrário dos cartolas, não se iludem com isso.
Após a chuva de pódios em Winnipeg e o resultado ruim em Sydney, uma
medalha no Caribe é celebrada, mas com ressalvas.
"Os Jogos Pan-Americanos são importantes para a confederação de
ginástica e para o COB. Para nós, o que vale mesmo é o Mundial",
afirmou a ginasta Daiane dos Santos, que ganhou um bronze no torneio por
equipes.
"Achei a prova fraca. Com esse tempo, não vou chegar a lugar
nenhum", disse Hudson de Souza após ganhar a medalha de ouro nos
5.000 m no atletismo.
Hudson, um meio-fundista improvisado em uma competição de fundo, é a
imagem do baixo nível das provas do Pan, opinião não compartilhada pelo
presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman. "É
prematuro fazer qualquer avaliação, mas o nível do Pan é alto. México,
Venezuela e Argentina cresceram. E o Canadá é fortíssimo", disse
ele.
A realidade, porém, depõe contra o dirigente. Após o fim das provas do
atletismo, houve oito quebras de marcas do Pan em 46 provas. Mas nenhuma
delas em competições nobres. Para ter uma idéia, João do Pulo, morto
em 99, é absoluto no salto triplo. Seus 17,89 m obtidos há 28 anos não
foram superados por Yoandry Betanzo, que saltou 63 centímetros a menos
para garantir o ouro.
A ginástica artística, que levou dez medalhas, enfrentou rivais
enfraquecidos. Os EUA enviaram uma equipe B para preservar seus principais
atletas para o Mundial.
"Em termos de mídia, o Pan é mais importante. Mas o que vai dar
vaga na Olimpíada é o Mundial", diz Daniele Hypólito, que desistiu
da prova de solo do Pan.
O basquete masculino levou o bi após bater times debilitados. "Os
EUA não vieram com uma equipe forte, e a República Dominicana não foi
um grande adversário na final. O Pan serviu como empurrão. Nosso
objetivo é o Pré-Olímpico", afirma o técnico Lula.
O remo disputou boa parte das regatas contra o número mínimo de barcos.
No oito com, o país foi inscrito de última hora para haver cinco embarcações
na disputa.
A mesma situação foi vivida nos saltos ornamentais, com as brasileiras
disputando a plataforma sincronizada só para a prova acontecer -ficaram
em último.
Até Cuba, que dá valor ao Pan, abriu mão de alguns esportes. A festa de
ontem, pelo triunfo do handebol masculino, poderia não ter acontecido se
os tricampeões dos Jogos tivessem viajado. "Normalmente, Cuba é
favorita. Mas eles não vieram. Isso abriu caminho para a conquista do
Brasil", festejou o técnico Alberto Rigolo.
Apesar da moderação sobre a importância do Pan, o Brasil caminha para
superar a marca de Winnipeg-99. Ontem, com o handebol e o judô, o país
chegou ao 19º ouro. Faltam sete para que o país passe o Pan anterior. Após
a jornada, o país somava 77 medalhas, 24 a menos do que obteve no Canadá,
diferença que, pelo andar da carruagem, deve se evaporar.
Só em esportes coletivos o Brasil está em cinco finais ou semifinais
-futebol e vôlei com os dois sexos e handebol feminino. A natação, que
em Winnipeg deu sete ouros ao país, começou ontem com quatro pódios
brasileiros.
A superação das metas brasileiras só não está mais próxima pelo
desempenho das mulheres, que contam com a maior representação da história
do país em Pans.
Diferentemente de Winnipeg, em que a delegação feminina evoluiu de forma
mais vigorosa, são os homens que brilham agora.
Já são 13 ouros em provas masculinas, o equivalente a 81% das premiações
desse tipo no Pan-99. Em Santo Domingo, as brasileiras subiram ao lugar
mais alto do pódio seis vezes, ou 67% das vezes que isso aconteceu em
Winnipeg.
As mulheres estão longe de alcançar a diversidade de 99, quando ganharam
ouro em oito modalidades. Agora, levaram em quatro. Os homens têm ouro em
sete esportes - foram seis no Canadá.