extraído do
de 23/07/2003
Strike
de futuro
Leonardo Meireles (da
equipe do Correio Braziliense)
A candanga mais nova em Santo Domingo
mostra que a timidez nunca foi obstáculo em sua carreira vitoriosa
O
primeiro contato com as pistas de boliche foi em 1996. No Parkshopping,
Luiza Rocha Trancoso acompanhava o pai Hermindo, médico da UTI do Hospital
de Base, apaixonado pelo esporte. Sem que o pai e a mãe, a advogada
Zuleika, forçassem, a menina de apenas 10 anos, tímida que só ela, começou
a encontrar ali uma parte de seu futuro. Algo que, além de bom remédio
para reduzir a timidez, traria a oportunidade de estudar no exterior e uma
vaga na equipe brasileira que segue para os Jogos Pan-Americanos de Santo
Domingo.
Com 17 anos completados em março, Luiza é a mais jovem atleta do time
brasileiro de boliche e a caçula também entre os brasilienses que vão para
a República Dominicana. Mas a responsabilidade não mexe com ela. Sempre
foi muito calada, com decisões firmes, sem ser autoritária, e com médias
sempre acima de oito no colégio. Até mesmo na Escola das Nações, onde
terminou o segundo grau, no ano passado.
‘‘Acho que ser a mais nova é positivo porque posso aprender. Mas também
tem uma certa pressão’’, analisa. Aliás, todos os seus projetos e ações
sempre se basearam em análises. Segundo a mãe, é estranho ver em uma
garota tão nova atitudes de adulto. Agora, por exemplo, Luiza se vê no
dilema de continuar no Brasil e cursar engenharia de computação no UniCeub
ou aceitar o convite de Fred Borden, um dos papas do boliche nos Estados
Unidos, para estudar nas universidade de Wichita ou Nebraska.
Luiza já tem tudo na cabeça. ‘‘Não existe razão para eu não ir. Seria a
melhor possibilidade de conciliar estudo e esporte. Se eu ficar no Brasil,
vou acabar abandonando o boliche’’, raciocina. E a distância da família e
dos amigos? ‘‘Tenho que isolar essa parte. Sei que vou sentir na pele e
mudar de opinião mais tarde, mas tenho que enfrentar isso’’, responde, sem
titubear.
Vai sentir falta das saídas com as primas Carolina e Verônica. Mas Luiza
sempre preferiu ficar em casa. Normal para alguém que se dedica tanto a um
esporte. ‘‘Talvez a timidez ajude. A Luiza se concentra muito facilmente.
É muito ligada no jogo. E tem o pai, que dá muita força e é o único atleta
do Brasil com uma formação mais forte como técnico. O resto é talento’’,
conta Marco Aurélio Areas, secretário-geral da Confederação Brasileira de
Boliche e por sete anos presidente da entidade.
Areas foi crucificado por muitos quando convocou a menina, com apenas 12
anos, para o Mundial adulto da Holanda. Mas Luiza prefere não se prender a
sua timidez. ‘‘Não acho que me ajude. O que eu faço é um trabalho mental
grande. Eu tento me isolar do que está acontecendo ao redor’’, ensina a
jogadora.
Familiares e amigos contam que ela é conhecida também por ser um pouco
pão-dura e não fugir dos trabalhos e das brincadeiras caseiras. ‘‘Durante
a reforma da casa, encontramos Luiza jogando bola com os pedreiros’’,
sorri o pai, um dos técnicos da Seleção que vai a Santo Domingo.
Quietinha, quietinha, Luiza quer mais. Quer virar profissional nos
Estados Unidos. Quer conquistar uma medalha no Pan, seja individual ou na
dupla formada com a mineira Jacqueline Soares Costa (o time do Brasil
ainda tem o mineiro Walter Assis Costa e o paulista Fábio Bastos Rezende).
E aumentar suas conquistas, que reúnem os títulos de tricampeã brasileira
juvenil, alcançado no último fim de semana em São Paulo, campeã
sul-americana juvenil, campeã brasileira adulta e classificada para a Copa
do Mundo da AMF (fabricante de equipamentos para a modalidade).
Para conseguir a vaga no Pan, venceu quatro das cinco eliminatórias. Seu
currículo faz inveja a muitos grandões de todo o país. ‘‘Ela pode ser
tímida fora da pista. Lá dentro é aguerrida, lutadora, ofensiva, joga com
força. Tem nível internacional’’, elogia Roberto Lanna, diretor-técnico da
Federação de Boliche do Distrito Federal