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12/07/03 - A DECADÊNCIA DOS JOGOS PAN-AMERICANOS

extraído dade 07/07/2003

Esporte
Os jogos da ilusão

Desorganizado e sem os melhores atletas dos EUA, o Pan-Americano é um sonho verde-amarelo

por André Fontenelle

A cada quatro anos, o Brasil vive o entusiasmo de ser uma potência olímpica. Só que a festa não coincide com as Olimpíadas, mas, sim, com os Jogos Pan-Americanos, uma disputa que a cada edição caminha mais francamente para se tornar um evento de segunda classe.

Neste ano, os jogos acontecem em agosto, em Santo Domingo, na República Dominicana – se o endividado país conseguir concluir as obras de pistas, estádios e alojamentos. A um mês das disputas, já é quase certo que algumas modalidades terão provas canceladas, por falta de instalações adequadas. Os móveis da vila que hospedará os atletas ainda estão sendo entregues. Cercada por um lamaçal, a piscina das provas de natação ainda não tem água. O piso da pista de atletismo não foi instalado. "Estes serão os jogos da modéstia", diz o presidente do comitê organizador, José Joaquín Puello. O governo liberou no mês passado uma verba extra para tentar terminar as obras, que custarão cerca de 140 milhões de dólares, o triplo da previsão inicial.

No campo esportivo propriamente dito, também não se deve esperar grande coisa deste Pan. Maurren Maggi, detentora da melhor marca mundial do salto em distância neste ano, é favorita em sua especialidade. Pelo menos outros 100 atletas brasileiros deverão trazer medalhas de Santo Domingo. Mas praticamente todos disputando contra adversários inexpressivos. Já foi assim da última vez, no Pan de Winnipeg, no Canadá, quando o Brasil ganhou 101 medalhas e a torcida acreditou que aquele era um sinal de sucesso nas Olimpíadas no ano seguinte. Poucos se esqueceram de que o país só ganhou doze medalhas em Sydney. Nenhuma de ouro.


Enquanto os brasileiros fazem seu esforço inútil em Santo Domingo, diante de atletas iniciantes, o verdadeiro time de basquete dos Estados Unidos, com os astros da NBA, vai se manter em treinamento para a eliminatória olímpica. Nem como treino usarão o Pan. No tênis, os dez americanos mais bem colocados no ranking mundial optaram por jogar torneios mais lucrativos. Do mesmo modo, as estrelas do atletismo continuarão disputando o milionário circuito europeu, no qual ganham mais dinheiro e enfrentam outros atletas de ponta. A natação dos Estados Unidos também avisou que mandará seu time B para o Pan-Americano. O A disputará o campeonato mundial, na Espanha, alguns dias antes.

Até alguns dos melhores atletas brasileiros vão esnobar o Pan. Entre eles as integrantes da equipe feminina de vôlei, que estarão na Itália, lutando pelo Grand Prix, uma competição que dá 1 milhão de dólares em prêmios. A equipe juvenil de vôlei feminino representará o Brasil em Santo Domingo. No futebol, quase que não se consegue nem isso. Foi necessária a intervenção do ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, para que a Confederação Brasileira de Futebol concordasse em enviar uma seleção de juniores.

Para dar a real medida da desimportância do Pan, vale conferir o valor pago pelas televisões para transmiti-lo. Enquanto os direitos das Olimpíadas de 2012 acabam de ser vendidos à rede americana NBC por 1 bilhão de dólares, os da transmissão do Pan custaram apenas 4 milhões de dólares à Organização da Televisão Ibero-Americana, que congrega as emissoras latino-americanas. Tamanho desinteresse é um pepino para o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, organizador do próximo Pan, no Rio de Janeiro. Nuzman se esforça para garantir que mais esportes tenham os resultados pan-americanos considerados para os Jogos Olímpicos – hoje isso acontece com apenas dez das 42 modalidades. "Queremos realizar o melhor Pan da história", diz ele. "A falta de uma ou outra equipe é um problema que pode atingir qualquer competição."

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