Os poucos cabelos brancos denunciam mais que a
experiência de 48 anos de vida. Também revelam mais de 20 anos de preocupação com o
boliche, a grande paixão de Walter Costa. Explicação para ele viajar quase todo fim de
semana e participar de jogos por todo o Brasil. Agora, por exemplo, ele está nas pistas
do ParkBowling, no ParkShopping, para participar da Taça
Brasília, até domingo.
Dentre os vários destaques da competição, o mineiro Walter chama a
atenção por ser um dos mais antigos praticantes de boliche e por ser o único brasileiro
a participar de uma olimpíada. Podem acreditar: o boliche fez parte, apenas como
demonstração, das Olimpíadas de Seul, em 1988. Walter estava lá, entre os 12 melhores
do mundo, mas não guarda boas lembranças. A experiência foi horrível.
Perdi o emprego por ter ficado totalmente voltado para o boliche, lembra
Walter, que conquistou a quinta colocação. Ao embarcar para a capital sul-coreana, ele
encontrou Romário e Zequinha Barbosa, entre outras figuras brasileiras. Era
só profissional. A olimpíada é para profissionais, não é para amadores. Os vencedores
do boliche ganharam US$ 200 mil. Eu ganhei frustração.
Walter recorda tudo isso sem rancor. Mas não dá para esquecer o quanto teve
de ralar para ser reconhecido. Perdeu o emprego em uma refinaria de petróleo e conseguiu
outro como distribuidor brasileiro da Brunswick, uma das maiores empresas de equipamentos
de boliche do mundo. Mas não é nada fácil. Não tenho salário, por
exemplo. Ganho por produtividade, mas com a alta do dólar o mercado de boliche não está
nada bem, explica. Mesmo assim ele continua.
Sou um apaixonado, argumenta. E é mesmo. A mulher,
Jaqueline, com quem é casado há 14 anos, ele conheceu no boliche. Ela também é uma das
melhores jogadoras do Brasil. Os dois, aliás, fazem parte da Seleção Brasileira e
brigam por vagas nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo (República Dominicana), no ano
que vem.
A paixão pelo jogo se estende às amizades feitas durante as viagens, jogos e
strikes. Há muito tempo não tinha um campeonato aqui em Brasília. Sempre
tem uma feijoada boa no sábado, quando venho por aqui, ressalta o atleta do
Cruzeiro, de Belo Horizonte, pelo qual foi campeão brasileiro de clubes neste ano, em
São Paulo. Daí a resposta irônica ao ser indagado sobre a decisão de não disputar a
Taça Paraná, em São Paulo, que não conta pontos para o ranking, mas terá a
participação de cariocas e paulistas, que formam a elite do boliche nacional.
Tem duas coisas que eu não entendo: o Panamá fazer parte do Campeonato
Sul-Americano de boliche e a Taça Paraná ser realizada em São Paulo.
Na Taça Brasília, porém, o nível
técnico está mantido, garante Paulo Xavier, organizador do evento. Mais da
metade da Seleção Brasileira está aqui. São 25 duplas do Distrito Federal, Bahia,
Goiás, Minas Gerais e Pará, conta. Pelo menos, no lado feminino, as três
melhores atletas do boliche no Brasil estão em Brasília: a mineira Jaqueline Costa e as
brasilienses Sarah Guterman e Luiza Rocha, atual campeã sul-americana juvenil.