Velho demais, jovem
demais ...
por Márcio Vieira
Parece
novela de televisão. Tem o núcleo dos ricos, o dos pobres, o dos velhos,
o dos jovens, mas é apenas de boliche que vou falar.
Conversando com o Bira, ou discutindo, no autêntico significado da palavra, ele
reclamou da geração Walter Costa, Caco Cruz, Márcio Vieira, que não
“larga” a chance de participar de seleções para representar o país.
Quando os jovens vão ter “chance”? Isto é panelinha? Bem, deixando
de lado alguns critérios e regras adotadas, o jogo deve ser disputado na
pista e deixemos os pinos falarem.
Na verdade o boliche sempre foi um esporte longevo, mas como todo outro
esporte, as gerações se sucediam com a presença de talentos novos a
cada ano. No entanto a partir de 90/91 mais ou menos, com a nova
tecnologia na construção do núcleo das bolas e principalmente do
material de superfície, o jogo mudou muito. Para fazer frente ao novo
arsenal e agressividade das bolas, novos tipos de óleo foram criados,
novas máquinas e novamente novas bolas, num ciclo contínuo.
Antigamente, quase todo jogador usava a seta 2 (tábua 10), criando um “tracking”
da casa que todos seguiam (anos 50 até 70). Monstros como Mark Roth começaram
a mudar o jogo (anos 80) com seu incrível poder sobre a então novidade,
bola de uretano. Se você tiver chance de ver um vídeo da época vai
achar graça da trajetória tão “simples” da bola, comparada com a de
qualquer novato com bola reativa na mão hoje em dia.
De
volta às bolas reativas dos anos 90, pudemos verificar como uma pista
muda completamente com o uso contínuo: é óleo que some, é óleo que
corre, é muito óleo, pouco óleo, etc. Aí é que entra a longevidade na
estória. O jogo que tinha 75% de físico e 25% de mental, mudou e num
“chute” meu, para 1/3 físico, 1/3 mental e 1/3 de estratégia. Com
certeza estes 2/3 de mental e estratégia deram uma nítida vantagem aos
idosos como eu sobre jovens muitíssimos mais talentosos como por exemplo
Rodrigo Hermes.
Que
devemos fazer então? Obviamente estou no limite. Não há como fazer
mudanças tão significativas no jogo físico. Já para a geração do
Rodrigo o céu é o limite - Feliph Rosa, Mário Alvarenga, Daniel e
outros. São jovens demais? Não acredito. A idade aqui não é cronológica,
é de pista. O Juliano, por exemplo, já é muito “rodado”. Estudar,
ver vídeos, Internet, aulas, tudo é válido para esta turma. Mas o
principal no meu ponto de vista é a experiência em participações em
torneios, quanto mais, melhor, principalmente no exterior. O que eles
precisam é de “calo na alma”.
Tomemos
como exemplo Fábio Rezende que vai ao Pan/2003. Ele tem uma bagagem
emocional enorme dada pelos torneios que já jogou no exterior. Reparem a
segurança e postura de quem começa a saber o que sabe e o que não sabe,
o que pode fazer e o que não pode. Perguntem-lhe quantas horas de treino,
de leitura e de ligações telefônicas ele gastou.
Bem,
cabe aos atuais dirigentes da CBBOL criarem um núcleo para
desenvolvimento dos jovens e quanto aos velhos como eu, garanto, só saio
se me empurrarem para fora (ou me jogarem uma bola no pé). Êpa! Já estão
começando ...
Márcio Vieira
vieira@globo.com
março/2003