PUBLICADO NO SITE DA FEDERAÇÃO PAULISTA DE BOLICHE
Mais Torneio das Américas 2003
  por Márcio Vieira

A pedido da FPBOL vou tentar transmitir meu sentimento sobre o que ocorreu no Torneio das Américas 2003, basicamente o que achei do comportamento e condicionamento das pistas. Na verdade, pretendo completar o que o Geraldo viu no torneio, dar um desconto, trazer a realidade sobre "imposição de jogo" e discretamente esconder a vaidade de ser elogiado por um ferrenho adversário e grande amigo.

Experiência Anterior e Equipamento
Tendo jogado recentemente em 2001 com o Fabinho, e com sucesso, vinha coma imagem de que o jogo se desenvolveria basicamente pelo meio da pista, entre as setas 3 e 4, com óleo baixo e pistas reversas. Com esta imagem em mente levei 4 bolas para o evento, a saber:
1. Ebonite V2 particle – pro ativa com superfície 600, polida com black-magic;
2. Hammer Diesel Pearl reacive – reativa,1200 e polida;
3. Ebonite Tiger – reativa, lixa 2000 e polida com black-magic
4. Ebonite V2 Strong – pro ativa com superfície de lixa 600;

Prática Oficial
Com o material preparado como estava, parti para a prática. Lá chegando pude notar imediatamente que este torneio teria uma estória diferente do anterior pois a máquina de óleo havia sido trocada por uma das modernas da Kegel com aplicação obviamente de um óleo mais viscoso que aqui chamamos de gel líquido, a 39pés com bom volume.

Mesmo assim passei a prática oficial toda jogando em torno da seta 3, ou um pouco mais a direita (tábuas 12,13), só que tendo aplicado Scoth-brite na Hammer Pearl, bola que tem um bom back-end e imaginando que a V2 Strong entraria no seu lugar à medida que o óleo corresse para diante. Dependendo do tráfego, se no fim das 6 linhas a cabeceira abaixasse um pouco, imaginei que poderia voltar com a Hammer Pearl de início.

Cabe aqui ressaltar que fiz alguns arremessos na seta 1, mas com as bolas que estava usando "inside" (mais no meio) logo tive que me afastar muito da seta, perdendo a consistência e por isso abandonei este tiro.

1º dia Individual
Iniciei pela seta 3 com a Hammer e com 199, 225 e 201 (625) nas 3 primeiras linhas estava tranqüilo na pontuação, mas a terceira partida foi diferente das 2 primeiras em que repeti o "pocket", para ser honesto bati 201, mas poderia ser 170. Na quarta partida, ainda na seta 3 achei o 170 que não poderia ser 201, mas sim facilmente 140.
Já não estava mais achando graça no torneio, mas a Lucia me alertou que o americano Sam Lantho, que largara com 2 linhas baixas pela seta 3, fora para a seta 1 com outra bola e tinha batido 240 e 250 seguidamente.
Peguei a Tiger e terminei pela seta 1 com 253 e 208, fazendo 1260, 5º lugar no geral e uma certeza: a bola era a Tiger e a seta 1 para o Torneio da Américas 2003.

2º dia Individual
Na primeira partida já larguei com 176 e passei de 5º para 10º, com a Tiger e seta 1. Só que eu estava na pista dos ponteiros e pude perceber que seu jogo era na seta 1, mas jogando diretamente e com a Vortex V2 particle, que eu tinha na sacola e com a qual não tinha feito nenhum arremesso. Peguei a bola e copiei tudo que consegui do gringo para bater 1291 e medalha de prata!
Grande alegria e uma certeza, a bola era a Vortex V2 particle pela seta 1 direto ao pocket para o resto do torneio!

3º dia Dupla com Caco
Iniciei com a V2 direto e 259 e 224 com o Caco jogando bem, vai ter medalha na dupla. Na terceira linha "mamãe subiu no telhado" e um brilhante 144. O que tinha acontecido é que meus colegas de pista da Guatemala e Antilhas Holandesas estavam entre as setas 1 e 2 com bolas bem lixadas e porosas. Aí, o óleo que eu tinha à esquerda da seta 1 para quando eu errasse um pouco para dentro a mira garantisse meu 1-3, acabou, bem como minha pontuação.

Peguei a Tiger e fui um pouco mais corajoso, ainda na seta 1, só que mirando mais no pino 3 que no 1-3. Bati 266 e me achei o melhor do mundo. Mantive a jogada na 5º partida e larguei um sólido 141 na pista e a chance de medalha quase fora. Enquanto isso o Caco ia jogando na 1½ e 2 e caminhava fácil para 1300 de série, sem grandes sustos. Na última partida fomos então ambos para a seta 3. Com o tráfego dos parceiros de pista cavando da seta 2 para a direita, criou-se praticamente um bloqueio e um 269 trouxe a medalha de prata. Ouro nem pensar, pois com duas séries, minha e do Caco, de 1300, ainda levamos 143 pinos dos americanos na cabeça.

4º dia Dupla com Jacque
Aqui o campeonato começou a mudar de figura para mim. O fato de jogarmos com as mulheres a partir das duplas mistas era merecedor até de prática oficial, tanta era a mudança de comportamento do boliche ao longo do dia. Muitas jogavam com bolas lixadas pela 1½ e 2, muitas com bolas diretas e hoje, vendo com clareza percebo que aí sim o jogo era mais pelo meio. Neste dia, apesar da confiança em alta e jogando bem, não passei de 1201 com o maior dos caprichos.

5º dia 1º Bloco de Times
Com certeza aqui eu deveria acabar meu artigo e também o torneio ao som de "Cidade Maravilhosa" ou melhor, da marcha fúnebre. Além de não ter definido uma estratégia de jogo, pensando antes com que bola e seta jogar, também deixei o meu "mental game" ir para o ralo, achando que cada erro meu atrapalhava o time e me inibindo e errando cada vez mais.

Quando o atleta fica em dúvida no boliche, ou pior, acha que não tem jogo em tal dia, o melhor é mesmo ir embora. Todas as combinações não funcionaram, pois sem a correta execução do arremesso, não existe leitura e consistência.

6º dia 2º Bloco de Times
Era o dia de tratar das feridas e entrei decidido a jogar pelo meio o tempo todo. Apliquei praticamente a tática do treino oficial e joguei com a Hammer Pearl no início pela 3. Como o jogo era com 4 atletas por pista, movimentei-me sempre para a esquerda, acabando o dia com a V2 Storng pela central, já que necessitava de mais poder para um ângulo tão inside no gel onde a cabeceira não "frita" e seca totalmente. Um 1204 fechou o evento.

Conclusão
Foi um torneio de bastante sucesso para o time adulto já que todos ganhamos medalhas (prata nas duplas), num evento de alto nível que mesmo quando jogamos bem não temos esta garantia. Países como o México, que fez 4 medalhas no Pan Americano não ganhou nenhuma sequer, com 3 de seus 4 atletas de Santo Domingo jogando em Miami.

O Caco jogou praticamente como eu, ambos atrapalhando as mulheres na fase de time. Lucia começou mal no 1º dia de individual e recuperou o evento jogando muito bem os demais dias, ganhando prata com a Jacque nas duplas e liderando o quarteto. A Jacque jogou um torneio de alto nível, perdendo por muito pouco a medalha de bronze no All-events.

Pode se observar que o Brasil tem time para jogar de igual para igual com países das Américas, notadamente em campeonatos por fases. Não se pode garantir medalhas nos eventos, mas nunca devemos descartar nossas chances e sermos considerados zebras. Os resultados, pelo menos de 1996 para cá, provam isto.

Outro fator a ser considerado é que a presença de um técnico, de delegado ou de quem de alto nível puder ajudar fora das pistas é fundamental. Na fase de quartetos, uma visão menos emocional e mais fria do jogo de fora das pistas poderia nos ajudar muito a conseguir no mínimo o bronze. A transição das pistas condicionadas com gel é absurdamente grande, principalmente em torneios com tamanha diversidade de tiros e ângulos de jogo. Estar no,lugar certo ou errado é ter certeza que não somos tão bons para bater 260`s nem tão ruins para os 140`s, ainda mais sucessivamente num bloco de 6 linhas.

Como tentei ilustrar com este artigo bem pessoal e as vezes "tecnicista" demais, acho que Geraldo foi um pouquinho exagerado dizendo que "impusemos o jogo" aos demais. A visão carinhosa veio mais do coração. Bom, de qualquer modo não é nada desagradável receber um elogio de vez em quando.

Márcio Vieira
vieira@globo.com

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