Sem fazer força
por Márcio Vieira
Às
vésperas de um torneio nacional de boliche em que se espera que as pistas
estejam com a cabeceira mais carregada de óleo, resolvi escrever sobre um
problema que aflige a maioria dos jogadores que pratica em pistas secas.
Vendo boliche, andando em volta das
pistas, sempre observo vários “professores” falando para supostos alunos,
queiram estes ou não, quantas coisas eles TEM QUE FAZER para melhorar seu
jogo. No entanto vou destacar algo que não se deve fazer ao jogar, que é
arremessar a bola. Não, não estou louco. Não se pratica
boliche deste jeito? É quase. É rolando a bola.
Vários esportes são jogados arremessando
bola, mas nenhum o faz com uma “bolinha” de 16lbs (7kgs)! Esta semana
mesmo refurei a bola de um novato com 100kgs e 1,85m com dor no braço de
jogar boliche. Obviamente, da furação à sua forma de jogar, as coisas não
andavam bem. Basicamente seu maior problema era tentar lançar a bola nos
pinos com toda FORÇA. É como se você pegasse uma bolinha de tênis para
lançá-la para frente. Mas a bola de boliche pesa um “pouquinho” mais.
Quando lançamos a bola de tênis existe uma força em sentido contrário que
nosso corpo é capaz de sustentar sem desequilibrar. Sendo a bola de
boliche mais pesada, esta força em sentido contrário será maior e muitas
vezes nosso corpo não agüenta e se desequilibra piorando a pontaria,
variando o saque, piorando o “timing”, etc. Se você não acha que exista
uma força de sentido contrário, tente empurrar um carrinho de supermercado
vazio e depois cheio. Compare.
Voltando ao boliche, a maioria de nós
não percebe que está arremessando a bola com força, interrompendo um
pêndulo livre, simplesmente porque “esperamos” fazer força ao jogar
boliche. É possível ficar falando um dia inteiro ou um torneio inteiro
pedindo ao atleta para NÃO lançar a bola, só rolar, sem que ele entenda ou
consiga. É preciso que uma vez ele faça isto para, por comparação,
perceber o sentimento.
Porque não usar a força? Simplesmente
porque não é necessário. Uma bola que tem pêndulo livre e atinge uma boa
altura atrás do corpo já vem com um “embalo” suficiente para obter
velocidade na pista na maioria das condições de jogo. Isto não é tudo, a
maioria dos atletas não só puxa a bola do topo do pêndulo como, por
ansiedade ou mal condicionamento, até interrompe o pêndulo para lançar a
bola, antes da bola chegar ao topo do pêndulo.
Como parar de forçar a bola? Tente
esperar a bola alcançar o topo do pêndulo e começar a descer somente pelo
seu próprio peso. Concentre-se em esperar o tempo em que a bola fica
parada entre o balanço para trás e o movimento de descida, isto é crítico.
Gradualmente você conseguirá acelerar o pêndulo APÓS o início da descida
da bola. Mais comparações. Imagine que você está numa montanha russa. O
carrinho começa a descer e sai debaixo de você. Você simplesmente é
carregado livremente na queda. Então sua mão é o carrinho e sua bola é
você.
Para facilitar este sentimento treine
com a bola de “spare”. Como ela é mais lisa você conseguirá segurar a
emoção de lançá-la e será mais fácil rolá-la. Por outro lado pratique com
pinos isolados. O jogador tem a tendência de jogar a bola mais forte com
10 pinos armados do que com apenas 1.
Alguém pode falar que alguns grandes
jogadores da PBA aceleram um pouco a bola. Só que aqui nós aceleramos
DEMAIS E MUITO CEDO.
Bom jogo a todos.
Márcio Vieira
vieira@globo.com