Como manter a
"linha"
por Márcio Vieira
Este
título tem mesmo duplo sentido. Muitas vezes a perda da “linha de
jogo”, isto é, da região de strikes, faz com que os jogadores perca o
melhor resultado da linha.
O artigo desta edição é baseado em opiniões de Mark Lewis, atleta
americano que disputou os Jogos Olímpicos de Seul/88 e posteriormente se
tornou técnico.
Vamos ao principal.
Durante torneio existe uma luta constante dos atletas em descobrir a
melhor bola, melhor velocidade, melhor saque e melhor linha de ataque para
fazer strikes. Freqüentemente vemos jogadores iniciarem torneios com
partidas altíssimas para logo em seguida “entregar o jogo” batendo
linhas sofríveis. O jogador fala:
- Não mudei nada! Não sei o que houve!
O que houve foi que ele não mudou mesmo, mas as condições de pistas
mudaram e isto não é tão fácil de perceber.
Para nós é sempre razoável
ouvir um diálogo de atletas falando como o boliche está diferente hoje
comparado à ontem ou em relação à outro torneio, o mesmo ocorre
durante o dia. Parece uma coisa fácil de se lidar, não é? Mas imagine
se o grande Oscar Schmidt a cada 3 arremessos tivesse o aro da tabela um
pouco mais inclinado ou a própria tabela deslocada mais para frente ou
para trás. Talvez os seus 40.000 pontos demorassem um pouco mais a
ocorrer.
No boliche no entanto isto é uma constante. A palavra chave para
solucionar este problema é OBSERVAÇÃO. Mesmo antes de iniciar seu turno
observe o turno anterior. Qual a região que está sendo usada com mais
sucesso, escolha um jogador com características parecidas com as suas de
modo que no seu aquecimento você já inicie com equipamento e linha de
tiro mais próxima do strike.
Geralmente na primeira partida você poderá
ter uma grande variedade de opções mas quando o tráfego de bolas
aumenta com bolas reativas “papando” e “arrastando” o óleo, suas
chances de escolha diminuem rapidamente e quem mudar primeiro terá mais
oportunidade.
Observando o óleo arrastado (carrydown)
Quando seu turno começa e as pistas acabaram de ser condicionadas o óleo
da cabeceira vai sendo deslocado em direção à zona de arremate e até
aos pinos. Este arrasto tem duas grandes conseqüências.
Primeiro, o óleo pego por cada bola cria uma pequena película de óleo
na zona de arremate, fazendo a bola escorregar um pouco mais antes de ter
aderência e “entrar”.
O que você vai ver é o seguinte: depois de
acertar o “pocket” nos primeiros frames, você vai jogar a bola na
mesma seta mas ela vai derrapar um pouco mais deixando um pino 2, um
castelinho (2-4-5) ou um pino 10 fraco. Se você reparar bem, isto poderá
estar ocorrendo com vários atletas no seu par ou ao seu lado.
É hora de ajustar. O primeiro ajuste básico é se mover uma tábua para
direita com seus pés e na seta que você está mirando. E se você tiver a
habilidade de variar a velocidade, é hora de reduzi-la um pouco.
Se estes
ajustes não forem suficientes, repita o primeiro ajuste chegando mais uma
tábua no pé e na seta para a direita. Considere também a chance de usar
uma bola mais porosa ou que role um pouco mais cedo.
O segundo fator provocado pelo carrydown é que mesmo de volta ao “pocket”,
muitas vezes você não vai conseguir strikes. Alguns arremessos com paciência
e “spares” nesta fase são fundamentais até que a pista “abra”.
Observando a “vala” (breakdown)
O oposto do óleo arrastado é quando aparece uma “vala” na cabeceira
da pista (breakdown). Quando a vala abre, as bolas começam logo a fazer
uma curva ou a rolar assim que você a coloca na pista no local onde estava
jogando.
Logo no início da abertura da vala, a bola vai começar a bater na cara.
Faça a correção básica de se mover a esquerda mas ao contrário da
correção de carrydown, mova inicialmente somente os pés e mantenha a
seta. Isto é necessário pois você vai pegar mais óleo na cabeceira mas
ainda necessita de aderência para que a bola “hook” (quebre) com
bastante força para fazer strikes. De uma a duas tábuas a esquerda devem
ser suficientes, não altere sua trajetória drasticamente movendo muito rápido
pés e seta pois você poderá se perder.
Assim como o carrydown, quando a vala fica muito acentuada mover pés e
seta pode não ser suficiente, aí você deverá aumentar a velocidade (o
que é sempre mais fácil que reduzi-la com consistência) ou passar para
um equipamento mais polido ou que vá mais longe na pista.
Aqui no Brasil você pode observar o Walter controlando o carrydown apenas
diminuindo sua velocidade (o que é muito difícil) e quando a “vala”
abre muitas vezes ele mantém o mesmo material e segue fazendo correções
de saque, velocidade e seta.
Sugestões
- Seja um observador atento: quanto mais informações você tem, melhores
serão suas decisões;
- Siga o líder: se algo está funcionando para outro não hesite em copiá-lo;
- Mova-se: quanto mais jogadas você tentar mais chance terá de achar uma
que sirva;
- Guarde a experiência: arquive na memória suas mudanças e conseqüências
pois o que não serviu para hoje pode ser a solução no futuro;
- Pratique: jogue no treino em todas as condições de pista, pois com a
prática vem a confiança e confiança lhe dá coragem de tentar
novamente.
Lembre-se: não perca a zona de strike (linha) para não perder o total de
pontos (linha) e finalmente não perder a compostura (linha). Ops! Parece
que português é mais difícil que boliche.
Boa sorte
Márcio Vieira
vieira@globo.com