NO PERU:
Estou em Lima, no Peru,
há dez meses e não vi muita diferença do boliche que é praticado aqui
com o dos outros países por onde estive dando clínicas ou trabalhando
com seleções nacionais.
No Peru, assim como no Brasil, cometiam o mesmo erro: colocar óleo
seletivo em competições locais. Isto estava afastando principalmente os
jogadores mais velhos das pistas. Sugeri ao presidente da Confederação
para manter óleos jogáveis nas competições que “não valiam” para
formação de pré-seleção ou seletivos para eventos internacionais.
O que todos devem ter bem claro e que existem três tipos básicos de
freqüentadores de boliche. E para cada um deles deve haver um tipo de
condicionamento.
1 – Aqueles que vão esporadicamente com amigos e/ou familiares e que não
tem nenhuma informação sobre o esporte boliche. São os open play.
Para eles: “Óleo para proteger as pistas”.
2 - Aqueles que praticam o boliche para: aliviar as tensões do trabalho
ou para manter uma atividade física. Alguns somente para socializar ou
simplesmente para se divertir. Para este grupo de praticantes hoje,
após vários anos de pensar de forma errada, acredito que o óleo deve ser
fácil de jogar (festivo) House shot!
3 - Aqueles que praticam o boliche como esporte. Que são
jogadores que treinam muitas horas por semana, tem especial cuidado com
seu equipamento e tem pretensões de seleção nacional. Para este grupo,
“Óleos difíceis” bem seletivos, que exija mais dedicação e trabalho duro
para a sua evolução.
Em algum momento lá no passado fui arbitro aspirante da Federação
Paulista de Vôlei e tinha que apitar jogos de campeonatos empresariais.
A orientação para nós, árbitros iniciantes era para “não” marcar dois
toques dos jogadores nessas competições (caso contrário, "não haveria
jogo!"), já quando tínhamos que apitar jogos do Campeonato Paulista
Juvenil... Não tinha perdão, marcávamos tudo. Até palavrão da torcida.
Bem, levei alguns anos para me dar conta que a federação de vôlei tinha
razão, não misturou as coisas! Uma coisa são as competições oficiais e
outra as competições de amadores (gente que pratica e ama o esporte),
mas não são atletas e não têm condição técnicas nem intenção de fazer
parte de uma seleção nacional.
Aconteceu algo muito interessante no Peru, os jogadores que estavam
abandonando o boliche voltaram lentamente quando o óleo ficou mais fácil
de jogar. A grande surpresa para mim foi que esses jogadores não se
inscreveram para os jogos seletivos para a formação da seleção nacional
salvo algumas exceções. Essas exceções são o verdadeiro problema do
boliche, gente que não respeita a idade que tem e principalmente a sua
real condição técnica.
Hoje sou a favor sim, de um condicionamento fácil para atrair “novos
jogadores “Médios” (como diz meu amigo. Décio Abreu)”, para aumentar a
quantidade de praticantes.
"Separem os jogadores de
seleção e bota óleo fácil pra todo mundo se divertir!"
OS VIZINHOS:
Cada ano que passa, vemos
novos jogadores na seleção da Colômbia país onde se faz um bom trabalho
de base.
A pergunta é... Por que no país vizinho há um aumento na quantidade e
qualidade de jogadores em vez de diminuir? A resposta é simples... Oito
anos de trabalho na formação de escolas e técnicos e outros tantos na
formação de atletas. Hoje estão colhendo o que plantaram!
Se estivermos falando de crescimento do esporte temos que nos espelhar
em fórmulas que deram certo como a da Colômbia. Dentro de alguns anos a
Argentina e o Peru vão estar à nossa frente. Lá estão sendo feitos
trabalhos nos mesmos moldes da Colômbia. Formar escolas e treinadores e
não perder tempo em discussões se este ou aquele óleo.
NO BRASIL:
No Brasil, passam os anos
e seguimos ouvindo os mesmos discursos de dirigentes que dizem: "Vamos
fazer uma nova administração e vamos trabalhar para o crescimento do
boliche etc. e tal." E não vejo nenhum planejamento com objetivos
claros, muito menos trabalhos... E menos ainda resultados!
Só vai haver mudanças importantes no boliche quando dentro das
prioridades também esteja à formação de jogadores jovens.
Se o foco continuar em “novos jogadores velhos” que já passaram da idade
de formação, e que não tem tempo, vontade ou condições econômicas para
aprender, seguiremos sendo um país produtor de jogadores médios de meia
idade na espera do surgimento de um ou dois fenômenos a cada década.
Não tenho nada contra jogadores velhos ou da velha guarda que praticam
o boliche hobby ou jogadores de “nível médio”, até porque (como já disse
Décio Abreu) eu vim desse grupo de jogadores e são eles quem
sustentam o boliche na maioria dos países.
Por falar de onde eu vim... Nunca fui jogador de ponta e não tenho
títulos importantes como jogador. Quando eu comecei a jogar boliche não
havia ninguém pra me ensinar, talvez isso tenha me motivado na decisão
de parar de jogar e me dedicar a estudar aprender e ensinar boliche.
Estar consciente que não se sabe! É o passo fundamental, mais
difícil e mais importante. Depois disto estamos prontos para aprender!
Outro dia eu disse que apoiava uma sugestão do Ademir Medina para
que fosse formada uma divisão especial. O
Renan Zoghaib
falou que se fosse criada esta divisão, estaria sendo feita para meia
dúzia de jogadores... Falou a mais pura, cruel e dolorosa verdade! O que
o Renan não está vendo é que, esse é o maior sinalizador da crise que
estamos atravessando no boliche. E se não for feito algo a respeito
perderemos os poucos que restam e não teremos nada para o futuro.
O Décio Abreu atribui a
grande desistência de jogadores ao problema com os tipos de
condicionamento que estão sendo usados, concordo com ele, mas em parte.
Acho que há mais de um fator... A grande desordem, a falta de
renovação, manipulação. O próprio ambiente de jogo do boliche
não é dos melhores, depois vem o custo e, por último, a falta de
motivação. Não há nenhum trabalho da confederação e federação para
melhorar o jogo desses jogadores.
Nos últimos anos a coisa
mais bem feita foi o seletivo para os Jogos pan-americanos do México.
Isso deveria ser sempre assim um seletivo de vários dias para cada
competição importante e em condições bem difíceis.
Parabéns Geraldo Couto!
O que incomoda muito é que
gestão após gestão todo o foco é voltado somente para administrar egos,
vaidades e agradar uns poucos e desagradar à maioria dos que já estão
insatisfeitos. Não vejo nenhum planejamento para trazer os novos.
Estamos regredindo a passos GIGANTESCOS... E não está sendo feito
nenhum trabalho nem para trazer jogadores de nível médio...
Tudo está voltado para discussões de regras não claras, um ranking
obsoleto que favorece só quem tem dinheiro e pode viajar, uma
pré-seleção sem sentido. Dirigentes que não sabem nem o que é um
breakpoint e ainda tem direito a opinar e votar em assuntos
técnicos.
Lamentavelmente dirigentes que não sabem nem de administração nem de
boliche, usando os contatos com órgãos oficiais de forma errada...
Federações com documentação em total desordem que não permite a busca de
recursos do estado.
Onde estão os banners e os
folhetos de informação das “escolinhas” de boliche?
Onde encontramos o calendário anual de “palestras técnicas” promovido
pela confederação e federações?
Onde estão os orientadores das federações para os novos praticantes?
Onde estão os calendários de competições infantis e juvenis?
Onde está o programa de divulgação do boliche nas escolas?
Cadê o planejamento para a formação de técnicos e professores?
Salvo algumas iniciativas
privadas... O que temos?
O PASSADO:
Tudo o que se ouve é...
Eu fui isso, fui aquilo, fiz aquilo outro e seguimos com o mesmo
discurso de alguns jogadores que fizeram história e que ainda não se
deram conta que isso é passado! Não se ouve estes jogadores
falarem fui isto, fiz aquilo e agora vou fazer ou estou fazendo isto
pelo do futuro do Boliche.
O passado serve para duas coisas:
Primeiro, o passado serve para fazer... “Memória de grandes feitos
e conquistas para que sirvam de exemplo”.
A CBBOL deveria fazer o Hall da Fama do Boliche Brasileiro e de
uma vez por todas colocar os grandes nomes e grandes feitos do boliche
pra todo mundo ver e admirar. Os grandes jogadores devem ser lembrados e
respeitados por aquilo que fizeram...
Segundo, o passado serve para fazer... “Memória para que
não se repitam os mesmos erros”.
O passado neste caso serve como alertar sobre os erros cometidos
e motivador para as mudanças necessárias com vistas a um futuro ainda
melhor. Tivemos um passado cheio de falhas administrativas e
manipulações tendenciosas.
O PRESENTE:
E este presente? O que
está preparando para o futuro?
Esta preparando uma nova geração de PAPAGAIOS...
O que me impressiona é que num país onde todo mundo sabe e conhece tudo
sobre óleo, bolas, jogo mental e jogo físico... Temos apenas meia dúzia
de jogadores para uma divisão especial.
"O nosso presente é fruto
de um passado alicerçado em egos!"
O PATROCÍNIO:
Hoje a frase da moda é:
Precisamos de Patrocínio!
Qualquer pessoa que tenha um mínimo de bom senso e algum conhecimento de
Marketing sabe que para conseguir patrocínio primeiro temos que ter
PRODUTO!
Quais produtos pode o nosso
boliche oferecer a um patrocinador?
Que retorno de mídia esse patrocinador vai ter?
O que vamos oferecer? Um
histórico glorioso e um futuro com os mesmos super astros? Ou vamos
apostar todas as cartas no único jogador de nível internacional que
temos agora?
Por falar no jogador do momento, se alguém falar estará dizendo
bobagens... Não me lembro de ter me atribuído a medalha de ninguém, não
sou desse tipo.
Para que precisamos de patrocínio hoje? Para pagar viagens para uma
delegação composta por um grupo de jogadores despreparados e que mal
falam entre si?
Boliche é um esporte caro como o tênis e o golfe e quem quiser
praticá-lo como tal, deve se preparar economicamente para isso. Como em
tudo na vida... Primeiro investimos e depois lucramos. Primeiro pagamos
uma boa escola depois um bom colégio uma universidade cara e depois...
Colhemos os frutos no futuro. Ou não! (Como diria Caetano)
Quem monta uma casa de
boliche não investe milhões para fazer caridade! E quem quer patrocínio
primeiro tem que mostrar ser merecedor do mesmo.
O CENTRO DE ALTO RENDIMENTO:
Ouvi comentários sobre um
centro de alto rendimento... Pra que? E pra quem? Quem vai ensinar? Onde
vai ser?
Qualquer investimento deste porte deve ser parte de um programa de
desenvolvimento. E um programa de desenvolvimento tem que começar com a
base, antes de fazer a sala de aula... Formem os professores!
Sem isso o centro de alto rendimento vai virar só mais um “ponto de
encontro” de papagaios e provavelmente para um bom carteado. Se assim
for?!... Eu quero entrar na concorrência da concessão do bar!
O FUTURO:
O boliche só vai melhorar
quando aparecer um dirigente que tenha uma visão esportiva paralela da
visão diversão, que não se deixe manipular, que não seja tendencioso e
não advogue em causa própria. Presidente tem que se ocupar de relações
corporativas e marketing institucional e não de regulamentos de
campeonatos.
Como falamos em meu idioma nativo “QUE TENGA COJENOS” para enfrentar
esse bando de dinossauros com idéias e posturas retrógradas e que há
muitos anos manipulam o boliche do Brasil. Que tenha atitude e
iniciativa para fazer mudanças sérias e importantes para o futuro do
esporte.
A história já provou que os
répteis em questão estão fadados a extinção e a serem exibidos em
museus!
Nada contra a idade até
porque sou quase da mesma geração, sou contra sim mas é do pensamento
mesquinho e retrógrado desses dinossauros.
O que definitivamente pega no boliche é a falta de respeito dos próprios
praticantes e dirigentes. Gente que acha que boliche ainda é o mesmo que
se jogava nos anos 60. Gente que acha que ser atleta de boliche é
treinar “partidas” duas vezes por semana ou jogar bolotes. Gente que
pensa que esporte vem acompanhado de carteado, cigarro e muita bebida.
Por enquanto estão deixando para o futuro, somente ensinamentos feios e
errados. Até porque muitos dos jovens já estão bem engajados e
encaminhados nesse programa.
Volto a repetir, não sou a favor apenas do esporte de alto rendimento
(até porque alto rendimento de boliche não existe no Brasil), acho que o
boliche diversão é a força motriz para o trabalho de desenvolvimento.
São duas coisas diferentes e devem ser tratadas com o mesmo respeito. Só
que com planejamentos diferentes, como dois bons produtos fabricados por
uma mesma indústria.
Aqueles que desejam ser
seleção têm que encarar o boliche com “respeito”, com dedicação para os
sacrifícios exigidos... Como em qualquer outro esporte!
E principalmente aqueles
que não têm pretensões nem condições... Deveriam se conscientizar disso!
E buscar seu espaço e o respeito que merecem, sem misturar e confundir a
coisas.
“Mantenha o olho na seta e na bola”
Benê Villa
janeiro/2012