Estou
no boliche a mais de 30 anos e durante esses anos todos vi muita coisa
no boliche brasileiro, sul-americano e mundial. Vi muita gente de
talento aparecer e desaparecer, muita gente sem talento aparecer, ficar
um tempo e desaparecer. Muita gente com grana vir e ir, muito
aproveitador ir vir. Muito inocente, vir e ficar por muito tempo. Só
não vejo que a coisa vá pra frente, principalmente nos últimos anos. O
que acontece?
Lamentavelmente pela própria característica do esporte e das pessoas que
conformam o universo muito pequeno do boliche.
Vamos lá, acho que deveríamos fazer primeiramente uma análise das
características do jogo e depois do jogador de boliche.
O boliche é um esporte individual, por mais que se insista e existam
competições de duplas, tercetos etc., clubes e seleções, o boliche
sempre será um esporte individual, onde o desempenho de cada jogador é o
que vale.
Bem diferente dos esportes coletivos onde alguém pode passar a bola para
outro jogador fazer um gol, dar uma cortada ou converter uma cesta. O
mesmo jogar o tempo todo sem pegar na bola ou fazendo uma apresentação
medíocre num time muito bom e acabar ganhando um jogo ou até um título.
No boliche não se joga contra outro jogador “pensante” do outro lado da
quadra que pode te passar uma bola em paralela e te pegar no contra pé,
te deixando sem ação como no Tênis por exemplo.
No boliche se joga contra a pista e contra si mesmo, assim como no
golfe. Por isso para ser um bom jogador de boliche uma das
características predominantes é ser INDIVIDUALISTA.
Outra característica muito particular do boliche, principalmente aqui na
América Latina é a idade dos praticantes (elevada), por quê? Porque é
caro!
Então quem pratica boliche? Pessoas que tem certo poder aquisitivo
certo? Para ter uma condição econômica esta pessoa já deve ter certa
idade... Dificilmente uma criança ou jovem adolescente tem essa condição
sem o apoio dos pais.
Por outro lado quem é esse praticante? Bem, se é jovem com condição de
sustentar esse esporte tão caro deve ter pelo menos uns 25 anos (na
corrida para ser campeão mundial... Já largou com pelo menos 12 anos de
atraso). Ou é aquele que resolve praticar um esporte por recomendação
médica ou resolve ter um hobby de executivo ou então é aquele que não
tem mais condição física para praticar esportes coletivos.
Muitos, como eu e vários amigos meus, chegaram ao esporte através dos
pais ou de algum familiar que já jogavam boliche. Mas a grande maioria
não começa por essa via. Na maioria das vezes o boliche começa como
brincadeira, depois se torna um vicio! Só depois se torna esporte!
Aí justamente reside a grande problemática do boliche não avançar como
esporte.
A maioria dos esportes começa a ser praticado desde criança ou
pré-adolescência e quando esses jovens chegam à idade entre 28 e 30 anos
estão quase no fim de carreira. Isto não acontece no boliche... Por
sorte!
É um esporte que pode ser praticado até uma idade bastante avançada,
temos muitos exemplos de senhores e senhoras com mais de 80 anos que
praticam o boliche como esporte.
Mas então, por que o boliche tem tanta dificuldade para crescer e se
tornar um esporte respeitado?
O que acontece com a maioria dos outros esportes é que os pais levam os
filhos a escolinhas de esporte. Futebol, tênis, basquete, vôlei, natação
etc. Onde as crianças vão aprender fundamentação regras etc. com
professores e depois com treinadores.
E no boliche? No boliche os pais trazem os filhos pra aniversários ou
para fazer hora enquanto não começa a seção de cinema.
Quando o sujeito já é maior de idade o cara vem com amigos para uma
diversão e descobre que o boliche é fascinante. Justamente por ser um
jogo que aguça seus sentidos de superação, o boliche e desafiador!
Depois que se vicia, ou por acaso pergunta para um jogador “expert” que
diz pra ele comprar uma bola ou por iniciativa própria, entra no
primeiro pro shop e compra a bola mais cara. Claro que ele também compra
um sapato, uma sacola e uma luva, além de todos os outros apetrechos
para a pratica correta do esporte. Então o sujeito vai pra pista sozinho
e começa a jogar.
Totalmente diferente do que ele faria para começar a praticar qualquer
outro esporte como tênis, golfe ou natação. O nosso novo praticante não
procura um treinador. Até porque ele tem de forma gratuita um sem fim de
treinadores que são “os jogadores de boliche”, que sabem tudo e
inclusive mais um pouco e que também aprenderam sozinhos!
Depois de certo tempo já esta jogando num clube e na federação e se for
daqueles insistentes, em pouco tempo vai achar que já tem condição de
disputar uma vaga na seleção estadual ou até nacional.
Acho que esse é o ponto de partida... Não vou nem entrar na questão do
ambiente geral do boliche, pois a intenção deste artigo não é criar
inimizades, mas sim tentar achar uma saída para o nosso problema
crônico.
O estancamento e retrocesso!
Depois de toda essa análise podemos chegar à conclusão básica de que
para crescer temos que ter gente para ensinar crianças. Ensinar os pais
que boliche é esporte e que é saudável!
Primeiro estar conscientes que fazer o boliche virar esporte de massas é
impossível, até mesmo pelos custos elevados de construção de centros
para praticar o esporte, custo dos equipamentos, viagens etc.
Mas existe uma camada da população que sim, teria condições de colocar
seus filhos numa escola de boliche. Mas para isso tem que haver quem vai
fazer a divulgação e principalmente professores para ensinar! Caso
contrário, seguiremos ouvindo os mesmos discursos que vem sendo
proferidos há anos!
Este artigo é o preâmbulo para o próximo que tem como titulo "O Boliche
e o profissionalismo!"
Até lá!
Benê Villa
maio/2012